Zelensky faz duras críticas a alianças do Brasil e expõe dilema diplomático de Lula com regimes autoritários
Em entrevista ao apresentador Luciano Huck, exibida pela GloboNews, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, enviou um recado direto ao Brasil e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora tenha elogiado o diálogo mantido em encontro anterior com o petista, Zelensky criticou a postura brasileira diante da guerra no Leste Europeu e questionou a aproximação de Brasília com países como China, Irã e Coreia do Norte, que classificou como não democráticos.
A fala do líder ucraniano toca em um ponto sensível da diplomacia brasileira: a tentativa de Lula de manter o país em posição de neutralidade no conflito, equilibrando relações com potências ocidentais — Estados Unidos e União Europeia —, ao mesmo tempo em que preserva laços com parceiros estratégicos dos BRICS.
“O que o Brasil está fazendo nessa companhia?”
Zelensky demonstrou estranhamento ao ver o Brasil próximo de regimes autoritários. “O que o Brasil faz nessa companhia? Eu não entendo o grande país democrático, o Brasil. O que o Brasil está fazendo? (…) É sobre geopolítica, é sobre valores, é sobre democracia e liberdade”, afirmou.
A crítica aponta para uma contradição: o Brasil, ao buscar equilíbrio geopolítico, pode ser percebido como conivente com narrativas russas e com regimes não alinhados aos valores democráticos defendidos no Ocidente.
O impacto político
A entrevista tem potencial de repercutir em dois níveis:
- Internacional – reforça a pressão sobre Lula para que o Brasil adote um posicionamento mais firme diante da guerra, especialmente em fóruns multilaterais, como o G20 e a ONU.
- Interno – fortalece o discurso da oposição, que acusa o governo de ambiguidade ao tratar de regimes autoritários.
O cálculo de Lula
Para Lula, a neutralidade é um trunfo diplomático: garante margem de negociação e preserva interesses comerciais estratégicos com China e países produtores de energia. No entanto, a fala de Zelensky expõe os riscos desse equilíbrio — ser visto como “em cima do muro” em um conflito que mobiliza valores universais como democracia e soberania nacional.
Um recado ao Brasil
Mais do que uma cobrança pontual, a entrevista foi uma tentativa de Zelensky de sensibilizar a opinião pública brasileira e isolar diplomaticamente a Rússia. Ao questionar “quem vai engolir quem” — se o Brasil engolirá seus aliados autoritários ou será engolido por eles —, o ucraniano jogou luz sobre a encruzilhada da política externa do país: pragmatismo econômico ou alinhamento ideológico em defesa da democracia.
Essa entrevista ocorreu ano passado
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