Influenciadoras que ofereceram banana e macaco de pelúcia a crianças negras são condenadas a 12 anos de prisão
A Justiça do Rio de Janeiro condenou, nesta segunda-feira 18, as influenciadoras Nancy Gonçalves Cunha Ferreira e Kerollen Vitória Cunha Ferreira — mãe e filha — a 12 anos de prisão em regime fechado por injúria racial.
As duas foram responsabilizadas por gravar e divulgar, em 2023, um vídeo em que ofereceram uma banana e um macaco de pelúcia a duas crianças negras, de 9 e 10 anos, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Na época do inquérito, mãe e filha somavam mais de 12 milhões de seguidores nas redes sociais.
Além da pena de prisão, as condenadas terão de pagar indenização de R$ 20 mil a cada vítima, com correção monetária. Elas poderão recorrer em liberdade, mas estão proibidas de publicar conteúdos semelhantes nas redes sociais ou de manter contato com as vítimas.
Segundo a sentença, assinada pela juíza Simone de Faria Ferraz, da 1ª Vara Criminal de São Gonçalo, o vídeo configurou “racismo recreativo”, previsto na Lei 7.716/1989, e foi agravado por ter sido cometido em tom de humor e em conjunto por mais de uma pessoa.
A magistrada destacou que as crianças foram “animalizadas” e expostas à humilhação pública, o que resultou em bullying e isolamento social. O menino chegou a ser chamado de “macaco” na escola e abandonou o sonho de ser jogador de futebol. Já a menina passou a brincar sozinha e precisou de acompanhamento psicológico.
Durante o processo, Nancy e Kerollen alegaram que não tiveram intenção de ofender e que apenas reproduziram uma “trend” do TikTok. Nancy chegou a afirmar que “não sabia o que era racismo”.
Para os advogados das vítimas, a decisão representa um marco:
“A sentença afirma que a infância negra não pode ser objeto de humilhação recreativa e que o racismo estrutural deve encontrar resistência efetiva no Judiciário”, destacaram Marcos Moraes, Felipe Braga, Flávio Biolchini e Alexandre Dumans, do Escritório Modelo Nilo Batista (SACERJ).
A defesa das influenciadoras, representada por Mário Jorge dos Santos Tavares, informou que irá recorrer. Segundo ele, as rés sempre colaboraram com o processo e “confiam que a Justiça reconhecerá sua inocência”.
Escreva sua opinião
O seu endereço de e-mail não será publicado.