Fim de vida útil de parques eólicos abre portas para novos negócios
O processo de descomissionamento dos parques eólicos, que em breve se tornará realidade no Rio Grande do Norte, abre uma frente de oportunidades que vai muito além da substituição ou desativação das turbinas antigas. A desconstrução das torres, pás e demais estruturas — e o consequente reaproveitamento dos materiais — já é vista por especialistas e empresários como um motor de uma nova cadeia econômica, capaz de integrar a indústria de reciclagem, a construção civil e a metalurgia. Em outras palavras, um ciclo que transforma o fim da vida útil dos aerogeradores em ponto de partida para negócios bilionários e sustentáveis.
O movimento, apontam os representantes do segmento, reforça a própria essência da atividade, reconhecida como uma dos mais limpas do mundo por trabalhar com fontes renováveis. As soluções para o reaproveitamento de materiais vão ao encontro de uma preocupação global com a sustentabilidade de todo o ciclo de vida dos equipamentos. Um levantamento do Global Wind Energy Council (GWEC, 2022), destaca que aproximadamente 90% dos materiais e componentes de uma turbina eólica podem ser reciclados.
Essa porcentagem inclui fundação, base, componentes da nacele e a torre, rotor (nariz do aerogerador), caixas de engrenagens, eixos de rotação, feitos de materiais como aço, cimento reforçado, fio de cobre e eletrônicos. Os 10% restantes – principalmente as pás, compostas de vidro ou fibras de carbono e matriz polimérica – já têm destinação alternativa em outros países, como a incorporação em asfalto ou tijolos de solo-cimento. Os itens não podem ser reutilizados na própria indústria de renováveis porque são considerados ultrapassados.
A grande dimensão física do negócio se reflete no tamanho e abrangência da cadeia diversa que começa a se formar no Estado. Isso porque não é possível pensar em reaproveitamento sem envolver outros setores, resume o presidente da Fiern, Roberto Serquiz. “Estamos falando de aço que pode retornar à siderurgia, de cabos de cobre que se transformam em insumo para outras indústrias e de concreto que pode ser reaproveitado em obras civis. É uma oportunidade para gerar emprego e renda, fortalecer a economia circular e consolidar o Rio Grande do Norte como referência em sustentabilidade”, pontua.
Essa engrenagem de inovação é descrita pelo setor como uma grande revolução da energia eólica no Brasil. Se na primeira fase o desafio foi implantar parques eólicos em larga escala, agora a missão é dar destino responsável a toneladas de aço, concreto, cobre e fibras. “Estamos diante de um mercado bilionário que envolve desmontagem, logística, destinação de materiais e novos produtos. E o mais importante: abre espaço para as empresas de BoP civil e elétrico, que já têm expertise em obras e manutenção, se associarem a recicladoras como a Recicla”, afirma Sérgio Azevedo, presidente da Comissão Temática de Energias Renováveis (Coere) da Fiern.
Integração das indústrias
O avanço dessa nova frente de reciclagem projeta um efeito multiplicador na economia potiguar. Empresas de logística, siderurgia, cimento e até fabricantes de resinas e polímeros podem se beneficiar do reaproveitamento dos diferentes componentes retirados dos aerogeradores. O Rio Grande do Norte, que é responsável por 30% da geração eólica do Brasil, tem potencial não apenas para atender à demanda interna, mas também para se consolidar como um polo nacional de reciclagem e reaproveitamento de equipamentos.
O presidente do Sindicato de Reciclagem e Descartáveis (SindRecicla-RN), Etelvino Patrício, detalha que o descomissionamento não se limita ao desmonte dos aerogeradores, mas representa uma oportunidade significativa para a geração de riquezas em múltiplas etapas da cadeia produtiva. “Estamos falando de transporte especializado, corte e separação de materiais, trituração e reaproveitamento do aço, cobre e alumínio, além da destinação correta das pás. Isso significa mais postos de trabalho em diferentes setores, desde logística até metalurgia e engenharia, com impacto direto na economia local e regional”, explica.
Tribuna do norte
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