Morro do Careca terá cerca reinstalada após flagrante de subida proibida na duna
Mesmo com placas que proíbem a subida e alertam para a proteção ambiental, o Morro do Careca, em Ponta Negra, voltou a ser escalado por frequentadores da praia nos últimos dias. Imagens divulgadas nas redes sociais no fim de semana mostram pessoas tirando fotos e caminhando sobre a duna, desrespeitando a restrição vigente desde 1997, quando o local foi oficialmente transformado em área de preservação ambiental.
Na manhã desta segunda-feira 7, a equipe do AGORA RN esteve no local e flagrou dois turistas subindo o morro. Minutos depois, uma equipe da Guarda Municipal chegou e advertiu o casal, que aparentava desconhecer a proibição. “A maioria das pessoas que tenta subir é de fora, são turistas”, relatou um dos guardas. Eles explicaram ainda que, durante o dia, as equipes se revezam para fiscalizar o local.
Atualmente, o local conta com sinalização para impedir a passagem. Uma voçoroca aberta pelas chuvas mais recentes danificou parte da estrutura de proteção. Por esse motivo, quase metade da cerca foi retirada temporariamente, o que facilitou o acesso irregular.
De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra), a reposição da cerca deve ocorrer até o fim desta semana. “As equipes estão sendo mobilizadas para a reinstalação”, informou em nota. A pasta confirmou que é responsável por executar a implantação da cerca.
O diretor-geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema), Werner Farkatt, reforçou que a retirada da cerca ocorreu devido às obras de engorda da praia de Ponta Negra, finalizadas em janeiro, e que o órgão já cobrou providências da Prefeitura após a nova erosão.
“Durante a intervenção que ocorreu na orla de Ponta Negra, foi necessária a retirada temporária da cerca para as máquinas trabalharem. Após a conclusão, a Prefeitura restabeleceu o cercamento. Entretanto, com as últimas chuvas, formou-se uma grande erosão que atingiu o pé do Morro do Careca e a cerca foi praticamente arrastada”, pontuou.
Werner Farkatt explicou que a Prefeitura precisa recuperar a forma original da praia, que tem tido alagamentos durante as chuvas. “Nós precisamos que eles [Prefeitura] recuperem a morfologia, ou seja, a forma daquela parte da praia e, consequentemente, a recuperação da cerca. Lógico, se estivesse tudo normal, a responsabilidade seria quase que exclusiva do Idema para a recuperação da cerca, mas nós queremos lembrar à população que a cerca foi danificada justamente pelo processo erosivo que aconteceu ali, infelizmente, naquela área”.
Farkatt ainda pediu o bom senso da população e dos turistas: “Existem placas informativas dizendo que a subida é proibida. Acho que o bom senso de todos deve prevalecer, porque não é de hoje que a população sabe disso. Não precisaria da cerca, seria até melhor sem ela pela questão paisagística, mas pedimos a gentileza da população que respeite e não suba no nosso cartão-postal”.
A subida ao Morro do Careca é considerada infração ambiental e pode ser punida com multa, com base no artigo 73 do Decreto Federal nº 6.514/2008. O texto prevê sanções para quem alterar a estrutura ou local protegido por seu valor ecológico ou paisagístico sem autorização.
Morro do Careca está perdendo altura, alerta professor
A contínua erosão das praias que abastecem o campo de dunas do Morro do Careca, em Natal, tem provocado a redução do volume de areia e, consequentemente, a diminuição da altura do Morro do Careca. O alerta é do professor Venerando Amaro, titular do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele reforça que o acesso à duna precisa continuar proibido para evitar um agravamento da situação.
“É importante que não se suba [no Morro do Careca], porque à medida que as pessoas fazem aquele trabalho de subida, elas vão removendo os sedimentos daquele talude na face da duna e jogando areia em direção à praia, ao mar”, explicou o professor. Segundo ele, a quantidade de areia que chega à base do morro já é reduzida, agravada pelo processo erosivo da praia localizada no entorno da Barreira do Inferno (Praia de Alagamar) – a principal responsável por alimentar o campo de dunas da região.
De acordo com estudos publicados pelo professor, há uma redução visível da diferença entre a base e o topo do Morro do Careca. “Ele está sendo rebatido, está diminuindo a altura. A diferença entre a base e o topo está sendo reduzida a cada temporada”, frisou Venerando. A previsão, segundo ele, é que esse processo se intensifique nos próximos anos.
Outro sinal do desgaste é a exposição de camadas mais antigas de areia, que estão sendo estudadas e datadas por pesquisadores da própria UFRN. “A gente já consegue ver material mais antigo ali. Ou seja, há uma redução muito severa das areias mais recentes, que formam essa morfologia da duna”, detalhou.
Além da erosão provocada pela natureza, o professor destaca o impacto direto da presença humana no local, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, quando o acesso ainda era liberado. “A remoção [de areia] é imensa. A vegetação perdia a sustentabilidade e também foi sendo retraída. Se observar nas imagens mais antigas, o Morro do Careca tinha uma largura menor e que foi se ampliando com o tempo”.
Para Venerando Amaro, preservar o Morro do Careca significa impedir a aceleração da erosão causada pela ação humana. “O vento e a chuva fazem isso naturalmente, de maneira mais suavizada. Mas quando as pessoas sobem, a remoção é mais agressiva”, destacou.
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