Uma análise de quanto custa assinar todos os serviços de streaming no Brasil

Um brasileiro que queira manter acesso simultâneo a todos os catálogos de streaming, de Netflix a Max, passando por Globoplay e Apple TV+, já precisa reservar, em média, R$380 por mês. O valor foi calculado pela plataforma Watch num levantamento divulgado em junho de 2025 e mostra que a fatura cresceu bem acima da inflação oficial nos últimos dois anos.

Ao mesmo tempo, o apetite pelo vídeo sob demanda não arrefeceu, 75% dos internautas assistem filmes ou séries por streaming, 64% elegem o formato pela praticidade e cada usuário passa cerca de 22 horas semanais conectado a esses aplicativos.

O mercado de streaming no Brasil

Desde 2019, o mercado brasileiro viu uma explosão de ofertas. As plataformas se multiplicaram, os preços subiram e, mesmo assim, a penetração bateu recordes. O mais recente relatório Inside Video 2025, da Kantar IBOPE Media, confirma que o consumo de vídeo sob demanda avançou 18% nos últimos 12 meses.

Estabelecendo, assim, o streaming como principal porta de entrada para entretenimento digital. Não por acaso, três em cada quatro brasileiros já têm ao menos uma assinatura ativa, enquanto dois em cada três dizem preferir o modelo justamente pela possibilidade de começar a reprodução “onde e quando quiser”.

Esse sucesso, porém, veio acompanhado de um efeito colateral curioso. As plataformas reajustam preços, lançam planos com anúncios ou reempacotam combos de um mês para o outro, tornando a conta imprevisível, e até salgada demais para quem já lida com uma inflação oficial de 5,32% em 12 meses e salários que não acompanham o mesmo ritmo.

A corrida pelos catálogos exclusivos

Na tentativa de reter (e atrair) assinantes, cada player investe bilhões em produções originais e contratos de exclusividade. É quase como se os streamings também entraram na tendência de caixas surpresas que tanto conquistou os brasileiros. Em um box surpresa, o usuário pode encontrar. Já no steaming, fica a surpresa de qual lançamento vai bombar e em quais plataformas ele vai estar disponível. Esse foco em exclusividade, contraditoriamente, fragmenta conteúdos populares em múltiplos serviços, empurrando o espectador a multiplicar assinaturas para não perder a estreia da temporada favorita.

Quem sofre é o bolso, pois basta lembrar que, só em 2023, a Netflix ampliou de forma agressiva a cobrança pelo compartilhamento de senhas, medida que tornou a divisão do custo mais difícil.

A resposta do público tem sido um ciclo de churn acelerado, assina-cancela-assina de novo, ao sabor dos lançamentos, estratégia que as empresas sabem, mas toleram, porque os picos de audiência justificam a matemática da retenção anual. Mas enquanto gigantes internacionais pisam no acelerador, produtoras nacionais correm para não ficar de fora.

Entre 2024 e 2025, o número de séries brasileiras originais em plataformas estrangeiras subiu. Esse fluxo reforça a percepção de que nenhum serviço, isoladamente, dá conta de tudo, intensificando a pulverização de catálogos e a pressão por novos reajustes de preço.

Os temíveis reajustes de preço

Foi com base em tudo isso que o estudo da Watch cravou a cifra-chave de R$380, patamar mínimo necessário, em 2025, para reunir os planos básicos (e, em alguns casos, apoiados por anúncios) de Netflix, Prime Video, Disney+, Max, Globoplay, Star+, Paramount+, Apple TV+, Crunchyroll, Telecine, Mubi e afins.

A alta impressiona quando contrastada com o IPCA. Enquanto a inflação oficial acumulou pouco mais de 5% em 12 meses, algumas assinaturas subiram até 75% no mesmo intervalo, transformando a etiqueta mensal em um índice particular, bem mais agressivo que o custo de vida médio.

Para especialistas como Maurício Almeida, presidente da própria Watch, a saída passa por democratizar o conteúdo e oferecer hubs únicos que concentrem vários canais por um preço menor, algo que, de quebra, agrega valor aos provedores de internet regionais. Por ora, entretanto, a realidade é que o brasileiro paga caro para acompanhar todas as suas histórias favoritas e precisa vigiar de perto cada centavo aplicado em entretenimento.

A cifra não está congelada. No Congresso, tramita o PL 2 331/2022, que pretende incluir as plataformas na cobrança da Condecine, até 3% da receita bruta, com alíquota maior defendida por produtores nacionais. Caso a medida avance, executivos admitem que parte do custo será repassada ao usuário.

Há ainda a variável cambial. Serviços como Crunchyroll e Mubi adquirem boa parte do catálogo em dólar, cada alta de 10% da moeda norte-americana pode gerar reajuste de 4% a 6% nas mensalidades. O resultado é que a inflação oficial perde de longe para a “inflação do streaming”, que superou 18% no mesmo período.

imanem / redes sociais

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