Carlos conta que o episódio com o ex-estudante começou porque este passou a traficar drogas dentro das dependências da escola. Na época, a unidade estava em reforma e, por isso, era fácil entrar no prédio. Depois da ameaça, o jovem passou a ir ao colégio com mais frequência para intimidá-lo com  presença física ou atos de vandalismo contra o veículo do diretor. As consequências foram crises de pânico, medo de trabalhar e noites sem dormir. “Passei a tomar rivotril para conseguir dormir e foi assim durante um ano. Procurei ajuda psicológica porque tinha medo de vir para cá e de viver. Isso durou até esse ex-aluno ser preso por tráfico de drogas”, relata o professor.
Uma possível solução do caso foi tentada com a Secretaria Estadual de Educação, mas o diretor se frustrou com a resposta. “Procurei  o Governo da época, mas a única coisa que me falaram foi ‘meu filho, se licencie desta escola’ e nenhuma solução de verdade”. Seis anos depois, ainda na rede estadual de ensino, Carlos não vivenciou mais casos desta natureza, mas ainda é comum ser xingado e confrontado por estudantes. “Aqui na escola as coisas melhoraram com projetos sociais, mas ainda é comum ter alunos ou mesmo responsáveis com xingamentos”, completa.

O episódio dessa escola não é isolado. Os casos de atentado à vida foram relatados por 136 educadores do RN, na pesquisa do Instituto Nacional Anísio Teixeira. O número corresponde a 2,5% dos profissionais questionados. Quando analisada a percepção de diretores e professores sobre ocorrência de situações de agressões verbais ou físicas, o número dos que já presenciaram é de 2.706 – 50% dos que responderam às perguntas (5.410).

Especialistas em direitos humanos e educação avaliam que a violência (verbal ou física) está na maioria das escolas inseridas em bairros onde há ausência do estado e presença do tráfico de drogas. “Quem frequenta essas escolas não tem uma estrutura familiar, enfrenta problemas com as drogas e está em contato com todo tipo de violência”, afirma João Maria Mendonça, coordenador do Núcleo Estadual Paz na Escola.

Em agosto de 2013, uma aluna de 15 anos da Escola Estadual Belém Câmara, também na zona Oeste de Natal, tentou matar uma professora com arma de fogo depois de uma discussão em sala de aula. Para João Maria Mendonça, o episódio é um exemplo da influência da violência externa na vida dos jovens porque essa estudante sofria maus tratos em casa com o padrasto. “É preciso um apoio pedagógico e psicológico maior dentro da escola para prevenir a violência e isso é o que falta hoje”, conclui o especialista.

Na escola onde Carlos Macedo foi vítima de violência, pelo menos outros três professores, além dele, afirmaram ter vivido alguma situação de ameaça ou agressão verbal – a física, de acordo com os relatos, não existe na escola, mas “é uma questão de tempo para acontecer”.  O medo é tamanho  que um deles sequer relata as hostilidades para a diretoria – a informação chega pelos próprios alunos. “Sabemos que ele é xingado, que jogam bolas de papel molhada na cabeça dele, mas ele não confessa nada para nós”, conta o diretor atual da escola.

O jornal Ttribuna do Norte usou nome fictício e omitiu o nome da escola para para preservar a identidade do professor entrevistado.