A adolescente estuprada no Rio estava inconsciente desde o início da agressão

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Encoberta pela sombra da vergonha, do medo, da culpa e da negação da própria vítima, a violação do corpo de uma mulher é, na imensa maioria dos casos, um ato inconfessado, tolerado e envolto em dúvidas. Foi assim no sábado 21 de maio, em que uma menina de 16 anos foi estuprada por pelo menos nove homens durante horas deitada sobre um colchão sujo de uma casa no Morro da Barão, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

A primeira rea­ção da sociedade ao tomar conhecimento do caso que repercutiu em todo o mundo foi de choque diante da violência. Em seguida, veio a incômoda constatação: no ambiente frequentado pela adolescente, de criminalidade e valores tortos, violências sexuais abomináveis são constantemente confundidas com relações sexuais aceitáveis.

Em casos como esse, não deveria haver relativismo algum, compreensão com o que é intolerável. O sexo sem consentimento é crime – ainda que nem mesmo a moça, cevada em um ambiente de permissividade, tenha entendido de imediato que fora estuprada. Uma minuciosa reconstituição desta tragédia feita por VEJA comprova que a adolescente estava inconsciente desde o início da agressão. Quando o estupro coletivo aconteceu, a menina vinha de seis horas seguidas embaladas a bebida e drogas em um baile funk que a deixaram fora de si. Ainda fez sexo com um parceiro, num alojamento de bandidos do morro, e não teve forças para ir embora. Ali foi encontrada, sozinha e inerte, e levada por um marginal para outro imóvel. No “abatedouro”, como é chamado, seria violentada pelo bando, que estava na área por acaso: planejava atacar uma facção rival, mas a ação fora abortada. Quando enfim voltou para casa, a garota tomou banho e foi dormir. Não lhe passou pela cabeça denunciar seus agressores. Em conversas com psicólogos, ela explicou por que não fez nada. Primeiro, por não saber direito o que tinha acontecido. Depois, porque na favela isso é normal. “A lei deles é outra”, disse.

Com reportagem de Cecília Ritto e Maria Clara Vieira / VEJA

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