O que se sabe sobre adolescente preso acusado de matar 2 em protesto contra violência policial nos EUA

Foto: Getty Images

O jovem é obcecado pela polícia e pelas forças de segurança, tem afinidade com grupos de milicianos justiceiros e gosta de armas de fogo. Essa é a conclusão a que chegaram vários meios de comunicação dos Estados Unidos que investigaram os antecedentes e relatos nas redes sociais de um adolescente de 17 anos que foi preso na quarta-feira (26/08) acusado de matar duas pessoas e ferir uma terceira durante as manifestações em Kenosha, Wisconsin.

Vários vídeos publicados nas redes sociais apontam para um indivíduo “ajudando” informalmente a polícia no controle das manifestações de Kenosha, que eclodiram depois que Jacob Blake, um americano negro, foi baleado sete vezes nas costas por um policial durante uma tentativa de prisão. Segundo as autoridades, o adolescente é acusado de homicídio doloso (quando há a intenção de matar) e será processado e julgado como um adulto.

Elogios às forças de segurança

O menor é conhecido por ter sido membro do Programa de Cadetes de Segurança Pública do Departamento de Polícia de Grayslake.
Esse programa oferece aos jovens a oportunidade de andar com policiais em seus carros de patrulha e oferece treinamento parta o uso de armas, embora não esteja claro se o suspeito recebeu esse tipo de instrução lá.

Em sua página do Facebook — que foi desativada após a prisão — ele elogiou repetidamente as forças de segurança, incluindo uma foto dele segurando uma arma longa e emoldurada com o logotipo “Blue Lives Matter” (Vidas azuis — a cor do uniforme dos policiais — importam), um movimento desencadeado em resposta ao Black Lives Matter (Vidas negras importam).

Em vários de seus comentários nas redes sociais, o jovem presta homenagem aos policiais. Em uma de suas contas no TikTok (também cancelada), ele é visto em um vídeo disparando um fuzil semiautomático. De acordo com o jornal Chicago Tribune, a arma parece ser idêntica à que ele carregava na noite de terça-feira quando se misturou à manifestação em Kenosha.

Justiceiros

Não se sabe se ele tinha a intenção direta de se envolver nas manifestações em Kenosha. No entanto, vídeos divulgados na terça-feira (25/08) mostram o adolescente armado ao lado de outros homens com fuzis, dizendo que estavam protegendo um posto de combustíveis fechado.

O jornal New York Times montou uma linha do tempo das ações do suspeito com base em diferentes vídeos que supostamente mostram o adolescente na noite de terça participando dos protestos.

Ele é visto vagando pelas ruas sozinho ou ao lado de outros autoproclamados protetores civis armados. A polícia os encontra, mas, apesar do fato de estarem violando o toque de recolher, eles não são abordados. Além disso, são oferecidas garrafas de água e um policial diz: “Obrigado… de verdade.”

‘Acabo de matar alguém’

Mais tarde, o jovem é visto sendo perseguido por um grupo, ouve-se um disparo. Ele se vira na direção do som e atira quatro vezes contra a multidão, aparentemente ferindo um homem na cabeça.

Ele foge de lá falando ao celular e diz: “Acabo de matar alguém”. Várias testemunhas alertaram a polícia, apontando-o como o autor dos disparos e foram atrás dele, quando o adolescente se vira novamente e dispara mais quatro vezes, acertando uma pessoa no peito e outra no braço.

Por alguma razão, as autoridades não agiram imediatamente para contê-lo ou detê-lo. Ele só foi preso no dia seguinte na casa onde mora com a mãe.

As acusações contra o adolescente acontecem no mesmo período da Convenção Nacional Republicana, onde a campanha de reeleição do presidente Trump tem destacado “a lei e a ordem” e os interlocutores alertaram sobre “crime, violência, a lei da multidão”, e a escalada ao “caos e violência em nossas comunidades”.

As declarações têm como alvo as múltiplas manifestações que provocaram atos de violência nos Estados Unidos após a morte de George Floyd há três meses, em Minneapolis, Minnesota.

Um vídeo supostamente mostra o adolscente suspeito na primeira fila durante um comício do presidente Trump em 2020, e em outra conta pessoal no TikTok o jovem também postou um vídeo desse mesmo evento.

No entanto, Tim Mirtaugh, um porta-voz da campanha de Trump, afirmou que “esse indivíduo não tem nada a ver com nossa campanha e apoiamos nossas fantásticas forças de segurança que agiram rapidamente neste caso.”

BBC BRASIL

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