Bando do PCC fez churrasco para reféns em roubo de 500 kg de joias

O Ministério Público de Mato Grosso classificou o roubo como cinematográfico e os assaltantes como “polidos e educados”. Afinal, os ladrões levaram 500 kg de joias da Caixa Econômica Federal de Cuiabá, patrocinaram churrasco às vítimas e compraram fraldas para crianças reféns.

A ação aconteceu em 13 de abril de 2000. O bando, capitaneado por Lourinaldo Gomes Flor, 67, o Velho Lori, um dos integrantes mais antigos do PCC (Primeiro Comando da Capital), atualmente recolhido em presídio federal, atacou o setor de penhor da agência.

Segundo a Polícia Civil de São Paulo, Lori é um dos pioneiros no roubo de joias penhoradas no Brasil. Na capital mato-grossense, ele agiu com outro velho conhecido das autoridades paulistas: José Reinaldo Giroti, 52, o Girotinho.

A quadrilha saiu de São Paulo e levou 40 dias para planejar o roubo. Uma casa alugada em Várzea Grande serviu como ponto operacional. Os assaltantes sequestraram um funcionário responsável pelo acesso aos cofres e familiares dele.

A princípio, os reféns ficaram vigiados por uma parte do bando fortemente armada, na própria residência do funcionário sequestrado, no Jardim Cuiabá. Mas o grupo de Lori resolveu mudar a estratégia e invadiu uma residência no bairro Boa Esperança, para usá-la como cativeiro. O dono do imóvel e a mulher também foram rendidos.

O que os criminosos não sabiam é que o casal havia combinado de reunir parentes e amigos para um churrasco. Os convidados foram chegando, alguns deles com filhos pequenos e crianças de colo.

Todos foram rendidos e trancados nos quartos da casa. O funcionário sequestrado foi levado para a agência com os demais integrantes da quadrilha. Ele teve de permitir a entrada dos assaltantes na agência; caso contrário, a família dele morreria.

O churrasco foi servido

Enquanto os ladrões arrombavam o cofre e recolhiam os 500 kg de joias, avaliados à época em R$ 5 milhões, os ladrões responsáveis pela vigilância dos reféns resolveram ir ao açougue para comprar carne. Também providenciaram bebidas.

Os assaltantes também foram a uma farmácia da região comprar fraldas para as crianças reféns. Depois do roubo, a quadrilha se dividiu. Lori, Giroti e outros comparsas fugiram para São Paulo, mas acabaram detidos. Uma parte da quadrilha, baseada em Cuiabá, também foi identificada e presa.

Na denúncia oferecida à Justiça contra os acusados, a promotoria escreveu: “Não é despiciendo (desprezando) enaltecer a frieza e o calculismo dos denunciados, uma vez que participaram de reunião programada providenciado a compra de carnes e bebidas. O tratamento dispensado aos reféns se pautou pela polidez e educação”.

Preso mais antigo

Além de ser um antigo integrante do PCC, Lori também é um dos presos que está há mais tempo atrás das grades. A matrícula dele no sistema prisional paulista é 38.824. O número de matriculados já ultrapassa a casa de 1,3 milhão.

Ele é condenado a 118 anos, quatro meses e seis dias de prisão. A pena dele vence em 16 de fevereiro de 2101. Lori foi preso pela primeira vez em 22 de agosto de 1980. Naquela década, os carros da moda, usados pelas quadrilhas nos assaltos, eram o Chevrolet Monza, Ford Escort e Del Rey, entre outros.

Lori já conviveu 40 anos na prisão. Ele escapou quatro vezes, mas, somando o tempo total como foragido, ficou nas ruas 13 meses. E foi encarcerado definitivamente em 20 de maio de 2000, pouco mais de um mês após a ação cinematográfica em Cuiabá. Por esse crime recebeu uma pena de 10 anos.

Outro lado: a reportagem não conseguiu contato com os advogados de Lourinaldo Gomes Flor, mas publicará a versão dos defensores dele, assim que houver uma manifestação.

Josmar Jozino – UOL

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