Bitcoin se valoriza e faz novos milionários da noite para o dia

Apenas promessa de um sistema financeiro à margem dos bancos e 100% digital até poucos anos atrás, o bitcoin está transformando nerds entusiastas em virtuais milionários, que temem o risco de sequestro ao mesmo tempo em que pensam o que fazer com um ativo que valorizou 1.500% só de janeiro a novembro de 2017.

“Muita gente no Brasil enriqueceu, como em todo o mundo. Sobre os sequestros, tenho conhecimento de dois casos concretos”, confirma o country manager da Ripio no Brasil e mestrando em moedas digitais na Universidade de Nicosia, no Chipre, Fernando Bresslau. Três outros especialistas procurados pela reportagem de O TEMPO citaram o receio de sequestro. Dois pediram anonimato e outro preferiu não se pronunciar sobre o assunto.

Um analista de sistemas que não quis se identificar conta que tinha criptomoedas (bitcoin, litecoin, ethereum e decred) que correspondiam a 50 bitcoins em 27 de novembro deste ano. Na época, elas valiam cerca de R$ 1,7 milhão. “Há um ano, valiam R$ 20 mil mais ou menos, agora que estourou”, conta. Na última quarta-feira, dia 13, esse valor chegava a mais de R$ 2,8 milhões. Ele começou a minerar bitcoins em 2013. “Sou uma exceção nas comunidades que participo. A maioria sempre viu como investimento. Nunca tive habilidade pra isso, sempre foquei em usar como moeda mesmo, para receber pagamento por serviços. Tanto que não coloquei dinheiro (em espécie) para comprar bitcoin. A maior parte consegui como pagamento por serviços prestados para empresas de fora”, relata. Ele leva uma vida normal, trabalha e ainda não decidiu o que fazer com os bitcoins. “Se eu comprar um iate, te convido pra andar nele” brincou ao final da entrevista.

Os especialistas que aceitam falar, mesmo com anonimato, tangenciam e dizem que “ainda não investiram”, ou “investiram pouco”. Eles não revelaram seus ganhos. “Não tenho bitcoins, pois só me interesso pela tecnologia, estou esperando o preço cair pra finalmente investir. Estou esperando cair desde 2013 na verdade”, afirma um deles.

Rentabilidade. Mas, os ganhos são muitos, mesmo para quem aplica pouco. O também analista de sistemas Affonso Guimarães Júnior, 44, diz que há mais de um ano ele investiu em moedas criptografadas, e que elas representam hoje cerca de 15% de seus investimentos. Os ganhos chegaram, segundo ele, a mais de 220% em cerca de oito meses. “Comprei bitcoins a R$ 4.400 e vendi a R$ 14,4 mil”, conta.

Com a alta do bitcoin, ele passou a investir em outras criptomoedas, como ethereum e bitcoin cash. “Para investir nas criptomoedas é preciso acompanhar a cotação diária”, ensina. Na última semana, o ethereum superou o valor de US$ 600. As outras criptomoedas também são indicadas pelo advogado especialista em mercado financeiro Aloísio Matos. “As outras moedas (digitais) têm muito potencial e, como são menos conhecidas, podem valorizar bastante ainda”, diz Matos. “Não podemos dizer agora qual vai ser a grande criptomoeda no futuro. Pode ser o bitcoin ou não”, explica.

Especialistas não descartam a possibilidade da cotação do bitcoin cair, ou da valorização diminuir. Mas todos concordam que o dinheiro digital veio para ficar. “As pessoas chamam o bitcoin de ouro digital porque ele realmente tem características do metal: não perde valor diante das flutuações da economia e tem uma entrada no mercado em ritmo controlado e transparente”, diz Bresslau.

Para o investidor e especialista em criptomoeda Sérgio Tanaka, até janeiro, a cotação do bitcoin pode oscilar. “Mas depois volta a subir. Estamos vendo o fortalecimento de um conceito não só da moeda, mas da tecnologia por trás. Quem continuar guardando bitcoin já se deu bem e pode se dar melhor ainda”, conclui Tanaka.

Movimentar não é ilegal

Comprar e vender bitcoins no Brasil não é regulado, mas não é ilegal, segundo o advogado especialista em mercado financeiro Aloísio Matos. “Não existe regulação, mas não significa que é ilegal. Pode comprar, vender, comprar produtos, transferir”, afirma.

Ele diz, porém, que operações de câmbio, grandes transferências de dinheiro para fora do país são proibidas. “Algumas pessoas usam o bitcoin para fazer transações cambiais, isso é proibido”, diz. Ele afirma que o Banco Central tem acompanhado a movimentação, mas não se manifestou no sentido de regulá-la.

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