Caso Miguel: mãe de menino que caiu de prédio diz que ex-patroa a chamou de ingrata em depoimento

Foto: Katherine Coutinho/G1

A mãe de Miguel Otávio, de 5 anos, que morreu ao cair de um prédio de luxo, no Recife, em 2020, disse que foi chamada de ingrata pela ex-patroa, que participou, nesta quarta (15), de audiência de instrução na Justiça. Mirtes Renata de Souza acompanhou o depoimento de Sarí Corte Real, que era responsável pela criança no dia da morte. “A fala dela foi muito bem articulada, muito bem ensaiada, até o show que ela deu no final, chorando, dizendo que estava sendo ameaçada”, afirmou Mirtes Renata. Em 2 de junho do ano passado, o menino estava aos cuidados de Sarí quando subiu de elevador até o 9º andar e caiu.

Sarí responde ao processo por abandono de incapaz que resultou em morte, com agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública (pandemia da Covid-19). Imagens das câmeras de segurança do condomínio mostraram que Sarí Corte Real chegou a apertar o botão do elevador antes de deixar o menino de 5 anos sozinho.

Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Sarí e duas testemunhas de defesa foram ouvidas nesta quarta, na 1ª Vara de Crimes contra a Criança e do Adolescente da Capital, localizada no Centro Integrado da Criança e do Adolescente, no bairro da Boa Vista, na área central do Recife (veja vídeo aqui).

O depoimento de Sarí começou por volta das 10h30 e durou cerca de uma hora. Mirtes contou que, durante a fala, a ex-patroa disse que ela e a mãe, Marta Santana, que também trabalhava para o casal, “eram ingratas”.

“Ela disse que me amava, que amava minha mãe, isso e aquilo outro. E que eu e minha mãe estamos sendo ingratas. Eu estou sendo ingrata? Ela cometeu um crime. É dessa forma que ela ama a mim e minha mãe, abandonando meu filho, a ponto do meu filho morrer?”, questionou Mirtes.

A ex-empregada doméstica recordou que, quando viajava, Sarí trazia presentes para ela, Miguel e também para Marta.

“Ela comete um crime e eu tenho que me calar só porque ela trazia um brinquedo para Miguel? Um relógio para mim? E além do mais, não era um agrado, era pagamento, porque eu fazia muito além do que era minha função. Aquilo ali era pagamento pelas coisas que eu fazia e minha mãe também”, declarou.

Os advogados de Mirtes afirmaram que Sarí não respondeu a perguntas de acusação, como o motivo de não ter segurado o menino pelo braço e tirado de dentro do elevador.

A assistente de acusação Maria Clara D’Ávila contou que a ex-patroa de Mirtes voltou a repetir que não tinha como prever a morte do menino.

“Ela não esclareceu porque ela tirou a mão do elevador, deixando a porta fechar. Disse que se distraiu com a própria filha. A única ação que ela entendeu que seria adequada de tomar seria de ligar para Mirtes. Ela se isentou de sua responsabilidade”, declarou.

O advogado de Sarí Corte Real, Célio Avelino, negou que a defesa da acusada tenha tentado culpar Mirtes e afirmou que o caso foi “um acidente”.

Avelino falou com a imprensa antes da audiência. O advogado e Sarí Corte Real deixaram o fórum, em um carro fechado e de vidros escuros, sem conceder entrevista.

O pai de Miguel, Paulo Inocêncio, e a avó do menino, Marta Santana, foram até o local da audiência. Do lado de fora da Vara, representantes de movimentos sociais, como a Articulação Negra de Pernambuco e o Fórum de Mulheres de Pernambuco, se reuniram com faixas e cartazes pedindo justiça para o caso. Veja mais em G1

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