Centro do Rio vira campo de batalha em ato contra pacote de austeridade

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Centenas de servidores públicos do Estado do Rio de Janeiro, entre agentes penitenciários, bombeiros, policiais civis e militares, professores e profissionais da saúde, ocuparam na manhã desta quarta-feira o entorno da Assembleia Legislativa fluminense em protesto pelo pacote de medidas de ajuste proposto pelo Governo estadual para tentar sanear as contas públicas.

A maioria dos manifestantes voltou para casa com os olhos avermelhados e passaram boa parte do ato lacrimejando e com a pele irritada, consequência das bombas lançadas pela tropa de choque da Polícia Militar após um grupo derrubar a grade que protegia a Assembleia. Um bombeiro foi atingido por duas balas de borracha no braço e um policial militar que se manifestava foi atingido no nariz. Houve muitas bombas de gás lacrimogêneo e correria nas ruas do centro da cidade e a tropa chegou a cercar os manifestantes, mas, após a dispersão, o ato se recuperou e seguiu até depois das 18h.




O pacote do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que levou os funcionários públicos às ruas pela quinta vez na última semana, contempla o aumento da alíquota previdenciária de 11% a 14%, o adiamento dos aumentos já concedidos e o fim dos triênios (um adicional por tempo de serviço), medidas que atingem diretamente o bolso dos mais de meio milhão de servidores do Estado. A proposta de Pezão incluiu também aumento de impostos que repercutirá na conta de telefone e de energia, na cerveja cigarros e na gasolina, assim como o fim de programa sociais que beneficiam os mais pobres, como os comedores populares, que oferecem comida por dois reais, ou auxílio-aluguel para os desabrigados.

A manifestação revelou o clima de revolta que os servidores públicos cultivam há meses com o atraso sistemático dos seus salários. “Eu não aceito nenhuma dessas medidas porque os cortes são contra o funcionalismo público, mas não estão estudando outras medidas. Nossa tolerância é zero. Não só por nós, mas também contra o fim dos restaurantes populares ou o aluguel social”, dizia a professora estadual Ina Borges.

 Aos atrasos soma-se a falta de materiais básicos para o trabalho que se arrasta há meses. Um grupo de inspetores da Policia Civil, que não quis se identificar, relatou a situação nas respectivas delegacias. Eles levam de casa o próprio papel higiênico que guardam num a gaveta e não têm mais papel nem tinta para imprimir. Professores contaram sobre a falta de Internet e telefone por suspensão de pagamento em escolas técnicas e falta de limpeza e manutenção em colégios. Policias militares apontaram a falta de verba para abastecer viaturas e um jovem bombeiro, responsável por dirigir uma ambulância, relatou a falta de luvas, agulhas e material básico para trabalhar. “Houve uma temporada em que não havia suficiente comida nos quartéis e tivemos que reduzir nossa escala. O atraso dos salários me levou a sujar meu nome. Há dois meses que não consigo pagar as parcelas da minha moto e tenho dívidas na C&A e na Riachuelo”, detalhou. Muitos deles não quiseram se identificar para “evitar represálias”.

Até esta quarta-feira apenas os trabalhadores da área de segurança pública –ativos e inativos– e os ativos da educação tinham recebido seus salários de outubro. O resto verá sua folha de pagamento parcelada em até sete vezes. Ninguém garante o pagamento dos próximos meses.

EL PAIS

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