CERES estuda formas de recuo do esgoto doméstico tratado como estratégia de combate à seca no Seridó

A reutilização do esgoto doméstico tratado no semiárido brasileiro para minimizar os efeitos da seca é tema de um projeto de extensão do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 

A recente sequência de anos secos no semiárido brasileiro aumentou a preocupação sobre a gestão sustentável da água na região. Além da captação eficiente e da utilização econômica da água, o reuso de esgoto doméstico tratado é considerado uma das saídas para o combate à seca. 

A professora do departamento de Geografia do Ceres e coordenadora da iniciativa, Rebecca Luna Lucena, explica que o tratamento eficaz do esgoto doméstico garante a remoção de 95% de toda a poluição. 

Por meio de um manejo adequado, essa água que hoje é desperdiçada pode ser utilizada na agricultura. “A água de esgoto é rica em nutrientes, porque o material proveniente dos dejetos humanos tem origem em nossos alimentos”, enfatiza a coordenadora, que estuda climatologia e hidrografia há 17 anos.

Atualmente, no entanto, muita água se perde durante o processo de tratamento de esgoto. “Normalmente, as estações despejam suas águas já tratadas nos corpos hídricos, como em rios. Outra parte se perde por evaporação”, relata Rebecca Lucena.

São Fernando

O município de São Fernando, no seridó norte-rio-grandense, foi escolhido para servir como base do programa de extensão. O local chamou a atenção da equipe do Ceres devido ao alto grau de saneamento.

Há duas estações de tratamento de esgoto para atender aos 3.401 habitantes da cidade, de acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um município pequeno que tem gestão de águas residuais eficiente”, destaca Rebecca Lucena.

A primeira fase do projeto consiste na medição de resíduos para avaliar a qualidade da água. A partir daí, será realizado o direcionamento dos usos múltiplos da água para atender às demandas locais. 

O uso depende da qualidade, explica a pesquisadora. “Para cada tipo de água existe uma aplicação específica. Se as estações estiverem funcionando muito bem, a prioridade será para o uso de irrigação de alimento animal e humano. Já se a condição for ruim, a água pode ser usada para um projeto de paisagismo”, afirma.

Rebecca Lucena destaca a importância da reutilização do esgoto doméstico tratado por ser uma fonte que existe mesmo em períodos de seca extrema. “Enquanto houver água circulando nas cidades, vai ter água sendo despejada no esgoto. As estações de tratamento sempre têm água, nunca secam”, enfatiza.

O projeto de extensão Reutilização da água do esgoto em cidade de clima semiárido: economia da água por meio da educação, monitoramento e usos múltiplos também inclui ações de educação para ensinar a população sobre o monitoramento e o uso econômico da água. 

Ainda no estágio inicial, o projeto pode ser utilizado como exemplo para todo o semiárido brasileiro. “Nosso objetivo é dar um direcionamento correto para a água que hoje está sendo desprezada para auxiliar no combate à seca”, ressalta a coordenadora.

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