Dia dos Pais pra quem? Com 80 mil crianças sem pai, abandono afetivo cresce

Apesar das campanhas publicitárias do Dia dos Pais que exaltam famílias formadas por pais presentes, a realidade do Brasil é muito diferente das “propagandas de margarina”.

Segundo levantamento da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC), 80.904 das crianças registradas nos cartórios brasileiros somente neste ano têm apenas o nome das mães nas certidões de nascimento, de um total de 1.280.514 nascituros.

Essa taxa de 6,31% torna-se ainda maior quando o impacto do abandono afetivo gera consequências para os futuros adultos que crescem com o trauma de terem sido abandonados, além da sobrecarga das mães solo, que enfrentam a tripla jornada diariamente.

Não é de hoje que o número de abandono afetivo amedronta as famílias brasileiras: em 2018, 5,74% dos registros de nascimento ficaram com o campo do nome do pai em branco e, em 2019, 6,15% das crianças nasceram sem ao menos o sobrenome parteno.

No total, são mais de 5,5 milhões de adultos que nunca tiveram o reconhecimento do progenitor. O dado alarmante é ressaltado quando, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 12 milhões de mães chefiam lares sozinhas, sem o apoio dos pais. Destas, mais de 57% vivem abaixo da linha da pobreza.

Traumas

Os números mostram que o Dia dos Pais é celebrado por somente parte da população brasileira, onde a grande maioria não tem pai ou foi vítima de abandonado durante a vida. Para o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude da OAB-DF, Charles Bicca, o abandono afetivo trás graves consequências à sociedade, devido aos traumas deixados nas crianças que se viram obrigadas a normalizar a indiferença.

“O abandono paterno ou afetivo é o descumprimento dos deveres do poder familiar, citados no artigo 229 da Constituição Brasileira e 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os textos falam ‘toda criança tem o direito de ser cuidado pelos seus pais’ e isso sempre teve presente no ordenamento jurídico”, diz Bicca.

Para o advogado, os números não englobam toda a problemática da realidade: “O abandono pode ocorrer dentro de casa também, quando o pai pouco se importa com a vida do filho. Ou com aqueles que registraram a criança, mas optaram por nunca terem contato”, ressalta.

“Pai é quem cuida, quem ama”

“É preciso uma aldeia para criar uma criança”. Esse ditado africano é ressaltado por Bicca, que também é criador da maior comunidade contra o abandono de filhos do Brasil. Para ele, a não participação e reconhecimento do filho deveriam ser penalizados por lei, apesar de haver uma jurisprudência condenando o ato (Veja mais aqui).

1 Comentário

Val Seridó

ago 8, 2020, 8:58 am Responder

Ora, isso é o resultado da cultura hedonista propagada em nosso país “liberdade sem responsabilidade”. Qualquer que se levante contra essa cultura logo é tachado de ultrapassado, velho, ditador, etc.
Em nosso país o adultério é ensinado na TV, o sexo banalizado também.
Sem contar as letras das músicas que por 24 horas entram nos lares.
Os jovens querem ter vida de casado sem a responsabilidade, se juntam e com uma semana se separam.
Daí se pergunta, tem como dar certo a instituição família em nosso país?

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