Eduardo Bolsonaro critica protestos: ‘Brasil não tem casos como de George Floyd’

Foto: Mateus Bonomi/AGIF

Em evento virtual da maior conferência da direita conservadora dos Estados Unidos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que o Brasil não tem casos como o de George Floyd, morto em Minneapolis após abordagem policial truculenta. Para o filho do presidente Jair Bolsonaro, a onda de protestos gerada com o episódio não é antirrascista, mas apenas uma “estratégia esquerdista” para “tomar o poder”.

O parlamentar foi convidado pela Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) para falar, entre outras coisas, dos reflexos no Brasil das revoltas que eclodiram nos Estados Unidos. Na transmissão, realizada na última sexta-feira, 12, o brasileiro referiu-se às manifestações como “riots”, palavra usada por críticos dos movimentos. Tem significado semelhante a baderna, vandalismo.

“Se você observar o que está acontecendo nos Estados Unidos, os protestos… eles dizem manifestações, eu diria baderna. Eles dizem contra racistas… eles estão tentando importar isso aqui para o Brasil mesmo não havendo caso como o de Floyd, que infelizmente morreu, ninguém quer que isso aconteça. Mas eles estão tentando trazer para cá esse tipo de ‘protestos’. No final das contas, sabemos que é só estratégia dos esquerdistas para tentar tomar o poder”, afirmou o filho do Presidente da Republica.Veja mais sobre a fala do parlamentar AQUI.

Violência policial nos EUA e no Brasil é igual, diz professora de Chicago

Professora da Escola de Serviço Social da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, a dominicana Yanilda Maria Gonzáles afirma que os assassinatos de João Pedro, adolescente negro de 14 anos que vivia no Rio de Janeiro, e de George Floyd, norte-americano negro de 46 anos, se conectam, apesar da distância em que ocorreram.

Na opinião da pesquisadora que há dez anos estuda a dinâmica das polícias de Brasil, Argentina e Colômbia, essas mortes representam, numa questão macro, que “a violência policial nos Estados Unidos e no Brasil são duas faces da mesma moeda, com grandes semelhanças nas causas, manifestação e dimensão do problema”.

“Nos dois países, as forças policiais agem em função de hierarquias sociais racistas e classistas, reproduzindo desigualdades na sua atuação. Por exemplo, as polícias americanas e brasileiras são, em geral, extremamente violentas, com altas taxas de letalidade”

Na tarde de 18 de maio, o adolescente João Pedro Mattos Pinto brincava com primos dentro da casa do tio, quando foi atingido por um tiro de fuzil 556 pelas costas. O armamento era utilizado pela polícia na operação realizada no Complexo do Salgueiro, região metropolitana do Rio de Janeiro, que tinha como objetivo combater traficantes. A perícia ainda não detectou que o disparo partiu de um policial.

O caso gerou comoção e inflou no Brasil protestos motivados ao redor do mundo pela morte de George Perry Floyd Jr, em 25 de maio, enforcado por um policial em Minneapolis, nos Estados Unidos. Enquanto o agente ajoelhou-se contra o pescoço de Floyd, a vítima afirmou 11 vezes que não conseguia respirar. Ele foi enterrado terça-feira (9) no Texas, onde cresceu, com comoção comparável à provocada pela morte de grandes líderes dos direitos civis do país, como Martin Luther King.

Nascida na República Dominicana, Yanilda chegou aos Estados Unidos como criança imigrante, com 7 anos. Cresceu em um bairro de imigrantes de baixos recursos de Nova York, ganhou uma bolsa de estudos para uma faculdade privada, a Universidade Nova Iorque. Depois, fez o mestrado e doutorado na Universidade de Princeton. Na sequência, o pós-doutorado na Universidade de Harvard, uma das mais importantes do mundo. Ela já morou no Brasil para fazer sua pesquisa.

De acordo com a professora, “nos EUA, a polícia mata o equivalente a 6% de todos os homicídios no país”. “No Brasil, a proporção é maior, com as mortes decorrentes de intervenção policial constituindo o equivalente de 10% das mortes violentas intencionais. Esses dados são notáveis pois, a instituição que, em tese, deveria reduzir a violência na sociedade é na realidade uma grande fonte de violência contra a sociedade.”

“Violência se concentra mais nas populações negras”

A professora aponta que, em ambos os países, as vítimas da violência policial são semelhantes. “Mais preocupante ainda é que essa violência se concentra muito mais nas populações negras. Nos EUA, as pessoas negras são 13% da população, mas 25% das vítimas assassinadas pela polícia. No Brasil, as pessoas negras são mais da metade da população, mas 75% das vítimas”, diz. “Essas grandes desigualdades raciais entre as vítimas da letalidade policial são mantidas pelas mesmas desigualdades da sociedade, as quais reproduzem a ideia entre muitas pessoas de que a polícia não deveria tratar todos os cidadãos com igualdade.”

“Pensa no clipe que viralizou alguns anos atrás do médico branco que foi preso na Flórida e disse aos polícias ‘você está me tratando como negro’. Ou, em São Paulo, o caso do comandante da Rota que disse que a as abordagens nos Jardins têm que ser diferentes das abordagens na periferia: os dois casos refletem um amplo reconhecimento que a atuação da polícia é diferenciada por cor, classe social, e geografia”, reflete a pesquisadora Yanilda Maria Gonzáles. Veja mais em UOL.

Levantamento apresentado pelo G1, usando como fonte o mapa da violência no Brasil revela que:

  • O Brasil teve ao menos 5.804 pessoas mortas por policiais no ano passado – um aumento de 1,5% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 5.716 vítimas (sem contar Goiás em ambos os anos)
  • A taxa de mortes pela polícia ficou em 2,9 a cada 100 mil habitantes
  • O Amapá é o estado com a maior taxa de mortes por policiais: 15,1 a cada 100 mil
  • O país teve 159 policiais assassinados em 2019 (menos que em 2018, quando 326 oficiais foram mortos)
  • Tocantins e Rio Grande do Norte são os que têm a maior taxa de policiais mortos do país: 1,3 a cada mil
  • O crescimento de mortes pela polícia em 2019, porém, é bem menor que o registrado em 2018, quando houve uma alta de 18%.

Primeira parcial divulgada no ano mostra que após ano de queda recorde, nº de assassinatos sobe 8% no Brasil nos dois primeiros meses de 2020, alta é causada principalmente pelos estados da região Nordeste; Ceará dobrou o número de vítimas.Veja AQUI.

O Rio de Janeiro é o estado que tem o maior número absoluto de pessoas mortas em confronto com a polícia (1.810 vítimas). Possui ainda a segunda maior taxa: 10,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes. O dado representa mais de 30% do total de mortes pela polícia no país. E a taxa é a mais alta registrada no estado desde 1998, ano de início da série histórica.

1 Comentário

Edson Oliveira

jun 6, 2020, 7:58 am Responder

Bolsonaro e família ñ conhecem o país q vive.

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