Gasolina no RN: 20 vezes entre as mais caras do País no ano

Foto: Magnus Nascimento

Em 20 semanas deste ano, das 37 analisadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Rio Grande do Norte se manteve entre os cinco estados do País com o maior preço médio da gasolina. O monitoramento da ANP começou na semana de 03 a 09 de janeiro (semana 1) e está na semana de 12 a 18 de setembro (semana 37). Neste período, o Rio Grande do Norte aparece duas vezes em 1º lugar, como estado com o preço médio do litro da gasolina comum mais caro; cinco vezes em 2º; quatro vezes em 3º; cinco vezes em 4º; e quatro vezes em 5º no ranking.

Entre 12 e 18 deste mês, o Estado apareceu com o segundo maior preço médio da gasolina comum do Brasil (R$ 6,620/litro), atrás apenas do Piauí. Antes, de 5 a 11 de setembro, o RN liderou este ranking (R$ 6,625), segundo dados de levantamentos semanais da Agência.

A alta da gasolina fez com que a motorista Hudeneide da Nóbrega mudasse toda a rotina para tentar driblar o preço elevado nos postos de combustíveis de Natal e do interior. O valor médio mensal parcial de setembro, cotado em R$ 6,451, em solo potiguar, é o maior da série histórica divulgada pela ANP desde 2001. Quando não está usando o carro para trabalhar, Hudeneide utiliza o veículo de forma mais controlada e planejada. Ela passou a programar as saídas e chegou a comprar uma bicicleta para fazer deslocamentos mais curtos, como ir à padaria.

O planejamento funciona da seguinte forma: Hudeneide escolhe um dia da semana para resolver a maior quantidade de problemas pessoais, desde uma consulta no médico até uma ida ao supermercado, em um único trajeto. “A gente precisa fazer dessa forma racional porque está um absurdo. Parece que perdemos a noção desses aumento. Já comprei até minha bicicleta prevendo que vai ter mais aumento. Junto a isso, a gente tem também o aumento da cesta básica e da energia elétrica. Estou tentando fazer isso, conciliar as atividades dentro de uma rotina que faça com que a gente tenha condições de poder sair de casa. Por exemplo, se precisa fazer feira, uma compra no Alecrim, a ideia é fazer tudo de uma vez só. A situação está difícil”, conta.

A profissional relata ainda que percebe o mesmo comportamento entre os próprios clientes. “Aqui em Lagoa Nova, onde moro, as pessoas estão começando a se juntar para fazer viagens com destinos parecidos para dividir o valor da corrida e economizar. Algumas mães combinam com outras de acertar um horário para deixar as crianças na escola, por exemplo. A gente vê isso, se o vizinho vai sair para um canto já combina de sair com outro, pegar carona, dividir combustível ou valor da corrida, no caso de viagem por aplicativo”, acrescenta.

Altas acumuladas

Com o preço médio do litro da gasolina comum superando R$ 6,620 na terceira semana deste mês, o RN registrou variação de 31% somente em 2021, passando de R$ 4,924 em janeiro para R$ 6,451 no acumulado de setembro (média mensal parcial). Em quatro semanas (incluindo a da pesquisa de 12 a 18/09), a alta foi de 8,38% e em seis meses de 12,7%.

Sobre o preço final da gasolina que chega ao consumidor incidem tarifas como taxa de realização da Petrobras; custos de compra do etanol anidro e de operacionalização das distribuidoras; lucro dos postos de revenda, além dos impostos referentes ao PIS/Pasep, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), Cofins e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O caminho do produto até chegar ao seu carro

Até a bomba, a gasolina percorre uma longa cadeia produtiva que tem início na extração de petróleo em águas profundas. Depois da extração, o combustível fóssil é tratado nas refinarias por uma série de processos químicos e físicos, que dão origem a gasolina pura — no RN esse processo é feito na Refinaria Clara Camarão, em Guamaré. No entanto, esse ainda não é o produto que abastece carros e motos.

Antes de chegar ao consumidor final, a gasolina pura precisa ser misturada com etanol anidro. O procedimento é feito nas distribuidoras, que repassam a gasolina comum (composta por 73% de gasolina pura e 27% de etanol anidro) aos postos revendedores. Dez distribuidoras fazem esse processo no Estado: Alesat; Ipiranga; Petrobras; SP; Raízen; Setta; FAN; Dislub; Temape; e Ypetro. As empresas entregam a gasolina para 655 postos espalhados por todo o RN.

Levando em consideração o preço médio do litro registrado em setembro de R$ 6,451, essa divisão de tarifas é feita da seguinte forma no Rio Grande do Norte (em média): R$ 2 ficam para a Petrobras; R$ 1,87 vão para o Estado em forma de ICMS; R$ 1,12 é a parcela das distribuidoras referente a adição do etanol anidro e ao frete; R$ 0,68 são destinados a CIDE, PIS/Pasep e Cofins; o restante, R$ 0,78, fica para revendedores. Os valores aproximados são baseados em estimativas da ANP, Petrobras, Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) e Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sindipostos/RN).

A taxa destinada ao Estado (ICMS) representa 29% do preço cobrado na bomba. A alíquota é a mesma desde 2016, quando o combustível era vendido a R$ 3,90. Esse é o principal argumento do Governo do Estado para apontar a política de preços da Petrobras como principal responsável pela alta da gasolina, uma vez que, no período, o preço variou 62,1%, enquanto o ICMS se manteve estável.

“Foi alterado em 2017 pelo então presidente Michel Temer a política de preços que a Petrobras utiliza, que acompanha o mercado internacional. A última alteração de alíquota de ICMS foi em 2016, feita na gestão anterior aqui do Estado, naquele momento de salários atrasados, como forma de combate a crise fiscal que estavam passando. Então os aumentos sucessivos são frutos dessa política que segue o preço internacional do petróleo, tanto o preço alto do barril de petróleo quanto a alta do dólar contribuem para isso”, comenta Carlos Eduardo Xavier, secretário de Tributação do Rio Grande do Norte.

O economista Janduir Nóbrega, do Conselho Regional de Economia (Corecon), destaca que não há perspectiva de diminuição do preço da gasolina no RN devido a fatores internos e externos de mercado. “O setor privado de forma geral, que é a parte das distribuidoras, refinarias e postos, tem sua margem de lucro e não vai abrir mão dela. É difícil enxergar uma luz no fim do túnel. O que poderia ajudar a contornar isso seria um aumento maciço da produção, algo que não vai acontecer tão cedo porque existem acordos de produção de petróleo. A produção não tem o poder de abastecer o mercado neste momento e pressiona o preço para cima, além disso, o câmbio tem pressionado o valor do combustível de forma assustadora e vai continuar pressionando”, detalha.

Panorama do RN
Dados referentes ao preço médio da gasolina

Posição do Rio Grande do Norte no ranking de estados com o litro da gasolina comum mais caro em todas as semanas de 2021:
03/01 a 09/01 4º (R$ 4,884)
10/01 a 16/01 4º (R$ 4,869)
17/01 a 23/01 6º (R$ 4,794)
24/01 a 30/01 1º (R$ 5,172)
31/01 a 06/02 3º (R$ 5,139)
07/02 a 13/02 4º (R$ 5,060)
14/02 a 20/02 8º (R$ 5,081)
21/02 a 27/02 2º (R$ 5,569)
28/02 a 06/03 10º (R$ 5,430)
07/03 a 13/03 9º (R$ 5,702)
14/03 a 20/03 6º (R$ 5,874)
21/03 a 27/03 8º (R$ 5,838)
28/03 a 03/04 8º (R$ 5,648)
04/04 a 10/04 14º (R$ 5,535)
11/04 a 17/04 17º (R$ 5,462)
18/04 a 24/04 17º (R$ 5,428)
25/04 a 01/05 18º (R$ 5,428)
02/05 a 08/05 18º (R$ 5,442)
09/05 a 15/05 11º (R$ 5,655)
16/05 a 22/05 9º (R$ 5,852)
23/05 a 29/05 5º (R$ 5,942)
30/05 a 05/06 3º (R$ 5,984)
06/06 a 12/06 5º (R$ 5,982)
13/06 a 19/06 4º (R$ 5,981)
20/06 a 26/06 4º (R$ 5,984)
27/06 a 03/07 3º (R$ 6,217)
04/07 a 10/07 2º (R$ 6,277)
11/07 a 17/07 2º (R$ 6,346)
18/07 a 24/07 2º (R$ 6,341)
25/07 a 31/07 3º (R$ 6,255)
01/08 a 07/08 5º (R$ 6,151)
08/08 a 14/08 5º (R$ 6,161)
15/08 a 21/08 8º (R$ 6,108)
22/08 a 28/08 13º (R$ 6,085)
29/08 a 04/09 11º (R$ 6,110)
05/09 a 11/09 1º (R$ 6,625)
12/09 a 18/09 2º (R$ 6,620)

SÉRIE HISTÓRICA

Preço de revenda do combustível desde 2001
(Valores registrados em setembro de cada ano)
2001 R$ 1,729
2002 R$ 1,735
2003 R$ 2,021
2004 R$ 2,116
2005 R$ 2,492
2006 R$ 2,708
2007 R$ 2,491
2008 R$ 2,663
2009 R$ 2,496
2010 R$ 2,675
2011 R$ 2,657
2012 R$ 2,689
2013 R$ 2,878
2014 R$ 3,027
2015 R$ 3,323
2016 R$ 3,786
2017 R$ 3,905
2018 R$ 4,709
2019 R$ 4,509
2020 R$ 4,694*
2021 R$ 6,451 (parcial)

*Valor referente a outubro. A ANP não divulgou balanço de setembro em 2020
Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

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