Janeiro chega ao último dia com alta de 80% no número de PMs mortos no RJ

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Chega ao fim o mês de janeiro e, até a noite desta segunda-feira (30), 18 policiais militares do Rio de Janeiro morreram; outros 42 foram feridos. Dos mortos, quatro estavam em serviço, 12 de folga e outros dois eram PMs aposentados. Isso corresponde a um aumento de 80% nos casos comparado com o mesmo mês de 2016, quando dez PMs foram mortos – um estava de serviço e nove de folga.

São dados que demonstram como o recrudescimento da violência no estado atinge diretamente a corporação. Os altos índices de letalidade e a calamidade financeira do estado são apontados como fatores que têm contribuído para corroer o psicológico de PMs, que cada vez mais têm procurado atendimento especializado para solucionar questões associadas à sanidade mental.




 

“Uma coisa que a gente ouve muito é que com esse atraso de inativos e de pensionistas, o policial não pode morrer. Por que o que será da família dele se, além de perder o pai, vai ficar sem salário? E aí, a gente percebe que essas mortes vulnerabilizam muito o policial”, diz o chefe do Núcleo Central de Atendimento Psicológico da PM, tenente-coronel Fernando Derenusson.

O oficial ressalta que, só em 2016, o núcleo concedeu 1.398 pedidos de licença a militares que declararam estar impossibilitados de trabalhar por problemas psicológicos ou psiquátricos. Um número que, segundo o chefe do setor, significa atualmente aproximadamente 4% do efetivo da corporação, que hoje conta com 47 mil homens.

Como chefe da seção, Derenusson acompanha de perto o que a derrocada do Estado tem causado à categoria. Grande parte tem sofrido de distúrbios e reclamado da falta de salários e cargas horárias incompatíveis. Só no último ano, a ampla maioria dos atendimentos (46%) foi feita a policiais da ativa – aqueles que estão envolvidos diretamente no policiamento ostensivo.

Defasagem de profissionais
A quantidade de atendimentos é expressiva – 20 mil policiais foram atendidos em 2016 -, mas pequena diante do universo de quase 300 mil pessoas que o setor psicológico da corporação poderia atender. O tenente-coronel considera insuficiente o número de profissionais disponíveis para suprir a demanda.

“A procura, tanto pela psicologia quanto pela psiquiatria, está refletindo o aumento da pressão que a Polícia Militar vem sofrendo. Existe uma crise, aumenta a violência na sociedade. Aumenta a violência, aumenta a exposição do policial a estresse pós-traumático, ao trauma, ao risco. Então, aumentou, sim, a procura por atendimento por causa dessa crise”, diz o oficial.

Somados os fatores crise financeira e aumento da violência, o oficial ressaltou que o policial tende a ficar mais vulnerável. Uma das questões que têm afligido a tropa, por exemplo, é a indefinição sobre o aumento da contribuição previdenciária. Esta semana o Governo do Rio deve apresentar à Assembleia Legislativa um novo pacote de medidas de austeridade e uma delas incluirá o aumento da alíquota.

Ao todo, a equipe que atende a PMs é composta por 98 psicólogos, sendo que 32 deles atendem em batalhões e outros 29 em unidades de saúde da PM – dois hospitais e quatro policlínicas. Os outros profissionais são distribuídos em unidades administrativas ou de instrução militar.

Além de psicólogos, a equipe também conta com quatro psiquiatras designados para atender a casos mais críticos nos quais o policial precisa, por vezes, ser afastado de acordo com avaliação clínica.

Derenusson conta que, em 2015, o número de psiquiatras na corporação foi cortado pela metade (antes eram oito). Hoje, ele considera que não há psiquiatras suficientes para atender aos 47 mil homens. Para sanar o problema, o oficial defende a realização de um concurso para repor os profissionais que foram cortados.

G1

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