Merkel deixa o comando da Alemanha como a chanceler que venceu sucessivas crises

A eleição deste domingo na Alemanha marca o início da sucessão da chanceler Angela Merkel depois de 16 anos no comando do país — os quatro mandatos consecutivos fazem dela uma das líderes mais longevas da Europa contemporânea.

E isso com uma popularidade de dar inveja a boa parte dos governantes do mundo ocidental: no auge do combate à pandemiana Europa, em janeiro, o índice de satisfação do cidadão alemão com seu governo era de 75% — atualmente, está em 67%.

“Ela deixa o governo com o maior índice de popularidade de qualquer chanceler alemão”, comenta à CNN o embaixador brasileiro na Alemanha, Roberto Jaguaribe.

Hábil política, rígida quando necessário mas flexível para conseguir negociar, a governante conservou uma postura austera e, para os eleitores, autêntica, ou seja, não falseada por marqueteiros políticos. E isso explicaria parte de seu sucesso junto ao povo, que leu como gestos de sinceridade suas decisões à frente da nação.

Ao mesmo tempo, Merkel soube se apropriar de pautas de outros partidos e levá-las adiante, seja para o bem da governabilidade dentro da coalizão formada, seja por entender que era preciso reconhecer como legítimos os anseios da população alemã.

Nesse sentido, Merkel executou um governo maior do que seu próprio partido, o centro-direitista União Democrata-Cristã (CDU, na sigla original).

“Merkel é muito engajada na agenda verde. Não é uma questão natural de seu partido, mas ela trouxe para dentro, sem esvaziar o Partido Verde. O mesmo com o SPD [o Partido Social-Democrata, de centro-esquerda], da qual ela absorveu os temas de apelo social”, exemplifica Jaguaribe.

Um ponto que ilustra bem essa capacidade de adaptação de Merkel aos tempos é a sua posição quanto às fontes de energia. Quando assumiu o posto, em 2005, abandonou a política de transição energética, marcada pelo desligamento das usinas nucleares e de carvão, iniciada por seu antecessor Gerard Schröder. Em 2011, em um contexto pós-tragédia de Fukushima, no Japão, uma pressão parlamentar reativou o programa, aprovado mais tarde pela gestão Merkel.

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