Ministério da justiça investiga cúmplices em fuga e afasta três servidores da prisão de Mossoró

A Corregedoria da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) tomou a medida cautelar de afastar três servidores do presídio federal de Mossoró (RN) nesta terça-feira, em decorrência da fuga sem precedentes no sistema prisional sob gestão do governo federal.

Os servidores eram responsáveis pelas áreas de inteligência, segurança e administração da unidade de segurança máxima. O Ministério da Justiça admitiu, em nota publicada nesta terça-feira (20), que abriu procedimentos de investigação administrativa para apurar possíveis cúmplices na fuga dos presos. Os nomes dos servidores afastados não foram divulgados.

Segundo comunicado assinado pela corregedora-geral da Senappen, Marlene Inês da Rosa, o afastamento permanecerá em vigor até a conclusão dos procedimentos investigativos.

A corregedoria do órgão instaurou uma investigação interna para esclarecer as circunstâncias envolvendo a fuga. Paralelamente, segundo o Ministério da Justiça, também está em curso um inquérito para apurar se houve conivência de algum funcionário na fuga dos presos Diebson Nascimento e Rogério Mendonça, ocorrida na última quarta-feira.


Enquanto isso, a busca pelos fugitivos continua, pelo oitavo dia seguido. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) enviou 100 agentes da Força Nacional para atuar nas buscas dos dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, ocorrida na última quarta-feira (14). Além dos policiais, 22 viaturas e um ônibus partiram da base da Força Nacional, no Gama (DF), nesta terça-feira (20), com expectativa de chegada na próxima quinta-feira (22). Os agentes vão se somar a outros 500 policiais, entre federais, rodoviários federais e polícias locais na busca dos dois fugitivos da penitenciária federal.


Segundo o MJSP, o efetivo, formado por policiais e bombeiros militares que já integram a Força, atuará por 30 dias no município potiguar. No entanto, as buscas não possuem prazo para serem finalizadas.


A busca aos fugitivos segue intensa desde a fuga empreendida pelos dois presos, na última quarta-feira (14), mas ainda sem resultados efetivos. Há suspeitas de que a dupla possa estar a caminho do Ceará, uma vez que o último sinal de celular dos fugitivos indicava que eles estavam na divisa do RN com o estado cearense. Os fugitivos roubaram celulares, roupa e comida durante a fuga em casas na zona rural de Mossoró.


O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, alegou que a complexidade do terreno dificulta os trabalhos, e que não há prazo para a captura. Lewandowski esteve em Mossoró no último domingo (18). A operação de recaptura conta com o apoio de 11 helicópteros, drones, cães farejadores e outras tecnologias, além de mais de 500 agentes das forças de segurança estadual e federal.


Nesta terça-feira (20), o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, promoveu inspeção na Penitenciária Federal de Mossoró para conferir se medidas de segurança estavam sendo implementadas, como reforço na estrutura da luminária das celas, limpeza de canteiro de obras existentes e reparação de câmeras com defeitos.


A recaptura dos dois presos é classificada como prioridade pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP). Os fugitivos foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, e Deibson Cabral Nascimento, 33 anos, também conhecido como “Tatu” ou “Deisinho”. Ambos são do Acre e estavam na penitenciária de Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Os investigadores identificaram que os detentos utilizaram barras de ferro para alargar o buraco por onde passaram para fugir do presídio, durante a madrugada da última quarta-feira (14). A fuga ocorreu pelas luminárias das celas. Os criminosos utilizaram um pano na ponta do ferro, que foi obtido na própria cela, para abafar o barulho.


Na edição impressa do último domingo (18), a TRIBUNA DO NORTE mostrou que a primeira fuga da história de uma penitenciária federal, ocorrida em Mossoró, na última quarta-feira (14), foi resultado de uma série de falhas no sistema que até então era considerado de segurança máxima. Contudo, as fragilidades do sistema já eram conhecidas do Governo Federal. O Ministério da Justiça foi alertado nos anos de 2021, 2022 e 2023 acerca de um grave problema de segurança, causado pelo sistema de videomonitoramento ultrapassado, incapaz de vigiar adequadamente o movimento dentro do presídio. Segundo documentos acessados pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE, o sistema de câmeras já tinha mais de 10 anos de utilização e necessitava de uma substituição. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, admitiu nesta semana, as falhas nas câmeras, mas não disse que o Ministério havia sido avisado.

Discordâncias
A possibilidade de cooptação de agentes pelo crime foi motivo de discordância pública entre o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o presidente Lula. Lula insinuou, no último domingo, que houve conivência de agentes penitenciários. “Estamos à procura dos presos, esperamos encontrá-los, e, obviamente, queremos saber como é que esses cidadãos cavaram um buraco e ninguém viu. Só faltaram contratar uma escavadeira. 

Eu não quero acusar, mas, teoricamente, parece que teve conivência com alguém do sistema lá dentro”, disse o presidente. Já o ministro Lewandowski evitou falar em conivência. “Enquanto as investigações não terminarem, seja no âmbito administrativo como policial, não podemos afirmar que houve conivência. Mas todas as hipóteses estão sendo investigadas.”, disse o ministro.

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