Morte de policiais e a derrocada da segurança; por Dr. Ivênio Hermes

Entrevista de Aura Mazda com Ivenio Hermes para a Tribuna do Norte

1) os casos de agentes de segurança pública assassinados no RN estão mais frequentes. O aumento da criminalidade contribui para isso?

Em toda a sociedade onde se processa uma banalização da violência pela ausência do estado e de políticas públicas orientadas para a redução das desigualdades sociais e para um policiamento eficaz, os índices de homicídios tendem a aumentar vertiginosamente.

À medida que esses índices se elevam, e quando sua aceleração não acompanha medidas minimamente eficientes, a violência deixa de suscetibilizar apenas os mais fracos socialmente e começa a atingir os que estão acima na pirâmide social. O caso do cidadão-policial é emblemático porque ele que representa a última resistência entre as forças do crime que estão em franca expansão e as forças do estado, cada vez mais mitigadas em equipamentos, em condições de trabalho e em número de policiais.

2) o ano de 2017 tende a ser mais violento do que os anteriores. Superamos os 1.200 assassinatos.

Superar a violência desenfreada do ano de 2016 será um feito histórico no RN, haja vista que aquele ano já foi o ano mais violento da história potiguar, contudo, os índices de 2017 parecem ser cada vez mais alarmantes, ao ponto de qualquer variação para menos seja comemorada como um feito notável. Mas dentro da perspectiva atual de aumento da criminalidade, a tendência mais correta é que 2017 superará os anos anteriores.

3) Você considera que as ações de segurança pública implementadas no ano de 2017 estão sendo suficientes para amenizar os indicadores de CVLI?

A redução dos índices de CVLIs está associada a planejamentos estratégicos interinstitucionais e integrados com outros setores de uma gestão executiva, é uma ação que não se restringe apenas às ações de polícia e que precisam atuar coadjuvantemente nas macrocausas da violência. O que percebo no RN é um grande esforço da Secretaria de Segurança Pública e das Polícias Civil e Militar juntamente com o ITEP, a ponto de gerar uma sobrecarga desumana de trabalho aos que estão ligados a esse sistema, mas não recebe o devido comprometimento de outras áreas.

A tentativa de reduzir a aceleração dos índices de CVLIs fundamentada apenas nas ações policiais, por mais evidentes que pareçam, tende a não segurar qualquer futuras baixas nos índices, e caso ocorram, quando eles começarem a evoluir de novo, será com velocidade redobrada.

4) O que deve ser feito para esse ano não figurar como um dos mais violentos da história?

As velhas fórmulas de polícia nas ruas e operações policiais reativas não fará com que os índices de violência reduzam efetivamente. Priorizar somente o combate ao narcotráfico e os crimes patrimoniais não promoverá resultados duradouros.

O Governo Estadual precisa estar presente contribuindo com a equação de redução, ou seja, precisa buscar pagar melhores salários, manter equipamentos individuais e coletivos em dia e em condições de uso, precisa ser mais ágil na solução de problemas que já se arrastam desde gestões anteriores, portanto não podem mais ser usados como desculpa para os atuais problemas.

É preciso acelerar projetos de captação de recursos, redefinir prioridades para os recursos existentes, determinar prazos para aferição de ações de segurança, conferindo o que deve permanecer e o que ser modificado naquilo que já foi executado, protagonizar práticas e ações orientadas por diagnósticos bem fundamentados, enfim, mudar a postura reativa e midiática atual para uma postura proativa e que trabalhe ações preditivas em ações típicas de segurança pública.

Não é possível que a falta de inteligência reativa célere nos eventos de crise, e de planejamento estratégico interinstitucional, que deveriam ter sido priorizadas desde o início da atual gestão, continue como mostrando resultados negativos e vulnerabilizando toda a sociedade potiguar.

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