Nazismo deveria ser crime. Acusação falsa de nazismo também

Monark foi demitido do podcast Flow por dizer que não é a favor de proibir um partido nazista (na verdade, qualquer partido). Kim Kataguiri vai ser investigado junto a ele pela PGR por dizer que é contra a Alemanha criminalizar o nazismo. Adrilles Jorge foi demitido da Jovem Pan ao dar um tchauzinho (sic), que foi interpretado como uma saudação nazista (!).

Filipe Martins foi investigado pelo MP por ajeitar a lapela com os dedos abertos, o que foi interpretado como um “gesto neonazista”, sob faniquitos de Randolfe Rodrigues e constantes escrachos da mídia, até do Jornal Nacional. Em uma das análises (perdoe-se a hipérbole), Gerson Camarotti dizia que o gesto era de “supremacismo branco”, enquanto fazia exatamente o mesmo gesto.

Vamos reler isto com calma. O Ministério Público está investigando um gesto. Será que qualquer jurista sério no planeta explicaria a ciência jurídica por trás disso? É matéria penal? Como coletaram as provas? Qual a lei ferida? Quantas foram as vítimas? Alguma fatal? Qual o dano? Qual a indenização? A quem? Quantos anos de cadeia? Sobretudo: baseando-se em que lei?

Sem o critério objetivo, estaremos no puro arbítrio. No “eu acho” alçado à categoria de Justiça – esta curiosa palavra que perde força ao ser grafada em maiúsculas oficiais. Comemora-se uma condenação – ou uma investigação, visto que os métodos inquisitórios do Brasil atual são uma condenação em si – quando o juiz não vai com a cara do investigado. Sabemos da decisão jurídica de antemão, ainda que não tenhamos como saber nada sobre supostas intenções terríveis por trás. E o que está em voga é uma acusação que, por mera coincidência, é a mesma de grupos de extrema esquerda contra qualquer um que deles discorde.

Como, afinal, investigar se uma ajeitada na lapela ou um tchau são um trejeito beirando o involuntário e incontrolável, ou se são um código para exterminar milhões de pessoas? Ninguém nota o abismo entre as duas coisas? Qual foi o método de investigação aplicável? E o destaque de suma importância: quantas pessoas no planeta Terra (e quiçá outros) por segundo fazem o gesto de ok e dão tchauzinho, sem nenhuma referência a nazismo, supremacia branca, genocídio de populações com base em raça?

Diga-se, a mera ideia de associar o gesto manual de ok com supremacia branca surgiu como brincadeira no 4chan. Afinal, já que a mídia associa qualquer coisa a nazismo, alguns usuários resolveram criar a “Operation O-KKK” (sic), justamente para fazer a mídia esquerdista americana cair na esparrela de acusar… bem, todo o mundo de nazismo. O gesto mais universal do mundo, que até símios fazem.

“Trollada” feita, um neonazi qualquer fazendo mesmo o gesto (tendo-o aprendido na mesma grande mídia), agora chegamos ao novo modelo das patas do Leviatã na nossa cabeça: finge-se que nunca foi uma brincadeira, e ora critica-se um gesto com as mãos quando não vamos com a cara da pessoa, ora dizemos que é apenas um gesto quando somos flagrados fazendo o mesmo com as mãos (desafio qualquer pessoa a passar 24 horas sem fazer “ok” com os dedos em algum momento).

O crime

Cultura de cancelamento? Agora é ainda mais do que apenas a turba com tochas pelas redes sociais: querem oficializar o modelo de demonização e de se livrar de indesejáveis chamando inocentes de nazistas. O senador Fabiano Contarato (PT-ES) acaba de apresentar o Projeto de Lei n.º 175 de 2022, querendo criminalizar apologias ao nazismo. Poderíamos render alvíssaras ao senador, até ler que sua justificativa são… gestos como os de Filipe Martins, Monark e Adrilles Jorge, que, em suas sábias palavras, “saíram impunes” (sic) do crime de mexerem as mãos.

No caso de Adrilles, nosso Cícero petista afirma que o comentarista fez um “Sieg Heil”. Esta saudação nazista envolve braços retos e perpendiculares, como qualquer pesquisa por imagem o mostra. Só quem desconhece a simbologia nazista acha que um tchauzinho é uma saudação (que imita o gesto dos centuriões romanos).

O próprio Adrilles postou um vídeo com um compilado dos seus tchauzinhos. No caso de Filipe Martins, o senador também “se esquece” de comentar que a ajeitada só é “infame gesto supremacista” em sua imaginação, que o Ministério Público não encontrou porcaria de associação a supremacismo nenhum (como iria, se não pode encontrar provas no cocoruto de burocratas?). Ou seja, comete uma calúnia, do alto de sua imunidade parlamentar.

Afinal, no já infame vídeo da ajeitada de lapela (idêntica à ajeitada que o sambista negro Bezerra da Silva dá na lapela na capa do álbum “Meu samba é duro na queda”), vemos um Filipe Martins cansado e sonolento… depois de uma viagem a Israel. País que o PT do senhor Cantarato considera quase um acinte a alguns muçulmanos que não desejam judeus em sua vizinha, e tendo Lula ficado em um “mal estar” quando foi convidado a visitar o túmulo de Theodor Herzl, fundador do movimento sionista. O mesmo vale para o partido de Tabata Amaral, que fala tão convincentemente sobre o risco da existência de um partido nazista para judeus, e em Israel apóia justamente quem quer varrer todos os judeus do mapa. Muito fofinho!

Temos então esta curiosa acepção, que começa com “cancelamentos” nas redes e termina com leis para definir que um senador pode te mandar para a cadeia por ajeitar a lapela ou dar um tchau baseando-se no objetivo fato concreto de que ele não vai com a sua cara – e então, pode te punir como se você fosse um genocida, em nome dos direitos humanos.

Para combater discursos que só são violentos na caçoleta de extremistas, cria-se um Estado de exceção… com o monopólio da violência real. Para combater um suposto perigo que até agora só existiu na imaginação de radicais, um político pode te prender até se não gostar da posição das suas mãos (para quem conhece a história de Heidegger elogiando as mãos de Hitler para justificar sua filiação ao Partido Nazista, oh, ironia!). Não é preciso crime para combater quem um senador chama de ditador: basta a vontade do burocrata em te punir. Por gestos. Por tchauzinho.

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