Novo diretor da PF defende sigilo de delações e critica ‘vaidade’ de Janot

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse que o órgão vai trabalhar “em silêncio” e “em busca de provas” para blindar as investigações de pressões externas. Para o delegado, os casos criminais só deveriam vir a público a partir de uma decisão judicial pelo fim do sigilo processual.

Em entrevista à Folha e outros veículos em seu gabinete, Segovia afirmou que discutiu o assunto com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em reunião de quase três horas na semana passada.

“Fomos uníssonos nesse assunto. O que vai nos blindar principalmente é o nosso trabalho, sério, o tempo todo. E com o sigilo dessas investigações ninguém vai saber o que está acontecendo. Nós faremos todas as investigações com sigilo e, no momento adequado, o juiz, que é o detentor do resultado do nosso trabalho, vai saber bem melhor quebrar esse sigilo.”

Falando em “parceria”, Segovia pregou mudança na relação entre PF e Ministério Público Federal, que durante a gestão do ex-procurador-geralRodrigo Janot (2013-2017) foi marcada por atritos.

Defendeu ainda que as autoridades se “dispam do orgulho e da vaidade”.

“Ela [autoridade] acha que é o ícone, que aparece ali na frente da televisão e está resolvendo o problema para o Brasil, e não é. São centenas de pessoas trabalhando.”

Indagado se estava se referindo a Janot, o delegado disse que ele seria um exemplo. “Mostrou ao Brasil talvez uma face que espero que tenha ficado no passado, desse orgulho, dessa vaidade.”

O delegado também reconheceu que no passado a PF registrou desvios das investigações, com policiais manifestando tendências até político-partidárias, mas que o órgão deve fazer um trabalho profissional.

Segovia também defendeu mais “união” entre os próprios policiais federais. As diversas carreiras que formam a PF estão “em guerra interna”, segundo o delegado, que teria sido estimulada por pessoas interessadas em enfraquecer a capacidade de investigação do órgão.

O diretor disse que está sendo analisada a ampliação da equipe de policiais federais hoje destacada para tratar dos inquéritos sobre políticos com foro privilegiado nos tribunais superiores. Mencionou que há reclamação de ministros do STF para dar celeridade nos casos.

Segovia disse que não mantém relações com o ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS) ou com ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), com quem só teria conversado durante uma solenidade, e só conheceu o ministro do TCU Augusto Nardes por razões profissionais, para discutir o projeto de criação de um gabinete de segurança institucional no tribunal apoiado pela direção da PF. A imprensa atribuiu aos três a indicação do diretor para o cargo.

Para Segovia, ele foi escolhido a partir de consultas do governo a diversas autoridades “da polícia, do Judiciário”. Disse seu nome também integrava, em última posição, uma lista com nove sugestões enviada pelo ex-diretor-geral Leandro Daiello para avaliação do ministro Torquato Jardim (Justiça).

O delegado disse que o ritmo de investigação não vai diminuir no ano eleitoral de 2018. “Será um processo dificílimo que a gente vai enfrentar. A gente vai ser totalmente neutro nesse processo eleitoral e a gente vai apurar tudo, de todos os lados.”

FOLHA DE S. PAULO

Escreva sua opinião

O seu endereço de e-mail não será publicado.