O efeito Marisa

Quais serão as consequências da morte da ex-primeira dama Marisa Letícia na cena brasileira? Como a perda da companheira de 43 anos impactará o septuagenário Luís Inácio? Muitos já passaram pelo amargo insuportável dessa experiência, mas… suportaram.

A maioria segue em frente e alguns, com mais frequência homens, mesmo na terceira idade, reconstroem a vida afetiva. O tempo é forte anestésico e o abatimento vai sendo quase que compulsoriamente minado por outros sentimentos e vínculos que persistem, redimensionando relações e perspectivas. Essa não é a regra. Ainda assim, é o que predomina.

No caso de Lula, entretanto, é preciso considerar que ao peso do momento se somam dissabores capazes não apenas de sepultar sonhos que persegue desde a juventude metalúrgica,  mas de leva-lo à prisão e de destruir sua biografia. A provação do viúvo ainda inclui temores mais que justificáveis quanto ao destino dos filhos, ligadíssimos à mãe, dois dos quais também ameaçados por investigações com horizonte possível de prisão e perdas patrimoniais. A carga não é pequena.

Amigos do ex-presidente se perguntam como e se ele resistirá, ou, mais precisamente, se terá ânimo para abraçar a monumental empreitada de concorrer ao Planalto em 2018 – se a Justiça Eleitoral permitir, claro. A intenção anunciada do Partido dos Trabalhadores, antes do ACV que vitimou Marisa, era lançar a candidatura em abril. As pesquisas eleitorais, mostrando-o no topo das intenções de voto, deram dose adicional de combustível ao projeto. Compreensivelmente, ninguém ousará tocar no assunto sem um sinal do líder. E que sinal será esse é o mistério do momento. Três parecem ser as hipóteses possíveis. Na primeira, estatisticamente menos provável, Lula vergará sob a carga que o destino lhe está impondo e jogará a toalha, desistindo de disputas, voltando-se para a família e para efemérides eventuais em seu Instituto. Será o outono, serão os netos, a autobiografia… Na segunda, cumprirá o luto, sacudirá a poeira e tentará dar a volta por cima, retomando a pregação contra as elites e a favor dos pobres, mantendo viva as esperanças da militância e arquitetando a vingança eleitoral contra os adversários de sempre e, com gosto especial, contra os muitos que o traíram e abandonaram, após incontáveis ceias do poder.  A terceira hipótese quase repete a anterior, mas lança mão de um elemento emocional novo, o fim de uma parceria que ao longo de 43 anos compartilhou pobreza, militância, perseguição política, derrotas, ascensão, glória e (o atual) ocaso.

Nos últimos dias, Lula teria instruído os que o cercam a não fazer comentários políticos relacionados ao seu luto – do que foi exemplo a nota, sucinta e austera, com que divulgou o diagnóstico fatal da mulher.  Mas esse mesmo Lula sabe, como poucos, o quanto de simpatia popular despertam os que se apresentam como vítimas de injustiças.  Sugerir que a “perseguição desumana” da Lava Jato à mulher, mãe e esposa Marisa Letícia a levou à morte se encaixa como luva nesse figurino.

JUDICIÁRIO
Chumbo à vista

Uma das preocupações que abalavam o Ministro Teori Zavascki era membros do Judiciário terem sido citados, pela primeira vez, nas delações da Lava Jato, mais especificamente nos depoimentos de executivos da Odebrecht. Além disso, as acusações atingiriam cinco ministros do TCU, além de dezenas de políticos. Tudo isso, agora, está nas mãos do ministro Edson Fachin, novo relator da operação no STF.

MINISTÉRIO PÚBLICO
Dupla derrota

Arquive-se! Foi a decisão unânime do Conselho Nacional do MP frente à representação de Lula (foto) contra procuradores atuantes na Lava Jato, na terça-feira 31. As acusações da defesa já haviam sido refutadas pela Corregedoria Nacional. Em voto vitorioso, o conselheiro Otavio Brito Lopes frisou não ter havido “dolo, fraude ou culpa grave”. “As afirmativas nos autos guardam pertinência temática com o objeto processual, tendo sido proferidas no contexto e limites da causa”.

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