O rombo da Previdência é uma farsa? Não é isso o que importa

Você deve ter visto no WhatsApp ou no Facebook: o rombo da Previdência é uma farsa. Textos, gráficos e vídeos internet afora tentam provar que o governo manipulou números para, assim, acabar com a aposentadoria dos brasileiros e dar mais dinheiro a banqueiros e rentistas.

A tese não é nova. Surgiu no governo FHC, atravessou as gestões de Lula e Dilma e ganhou força inédita depois que Michel Temer apresentou sua dura proposta de reforma. A ideia é sedutora. Mais fácil de aceitar que o discurso – do Planalto e de especialistas – de que, sem mudanças, vai faltar dinheiro para pagar aposentados e pensionistas.

Mas, no fim das contas, o rombo da Previdência é ou não é uma falácia? É provável que nunca haja consenso. Mas essa nem é a pergunta mais importante.

O problema do sistema previdenciário não é uma questão contábil. Se fosse, bastaria mudar rubricas de lugar, como reivindicam os que dizem que as contas estão no azul.

O verdadeiro problema, dizem especialistas, é demográfico: como a Previdência vai lidar com o envelhecimento da população? O fenômeno vai multiplicar despesas que já são maiores que as de países bem mais envelhecidos.

Em outras palavras, mesmo que a “foto” ainda esteja bonita, como alegam os que denunciam a suposta mentira do déficit, o “filme” não caminha para um final feliz.

Menos jovens, mais velhos

A transição demográfica tem óbvios aspectos positivos. Há mais brasileiros chegando à velhice, e idosos vivendo mais. Por outro lado, o número de pessoas em idade produtiva, que já cresce devagar, logo vai se estagnar e, em duas décadas, passará a cair.

Assim, haverá menos gente para sustentar a Previdência. Como o regime é de repartição simples, sem formação de poupança individual, o dinheiro de quem contribui é imediatamente gasto no pagamento dos aposentados.

Hoje existem 8,5 brasileiros em idade de trabalhar para cada idoso. Na Previdência a relação é mais apertada. No INSS, por exemplo, 54 milhões de contribuintes regulares bancam – com a ajuda do Tesouro, isto é, dos pagadores de impostos – cerca de 27 milhões de aposentadorias e pensões.

Mesmo jovem, o Brasil já destina 12% do PIB para pagar esses benefícios, mais que países como Alemanha e Japão, cuja proporção de idosos é o triplo da brasileira. E essa despesa só vai subir.

Por volta de 2060, haverá pouco mais de duas pessoas em idade ativa (e ainda menos contribuintes) por idoso. Se as regras de acesso ao benefício continuarem as mesmas, perto de 20% das riquezas geradas pelo país serão destinadas à Previdência. Para fechar a conta, o governo terá de cobrar mais do contribuinte ou, como já tem feito, tirar recursos de outras áreas.

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2 Comentários

Gilliard Santos.

mar 3, 2017, 5:28 pm Responder

Então porquê as novas regras não tem validade pra todos? Políticos, militares? Se é uma questão demográfica, não deve existir distinções. Parece que para alguns, a reforma só é ruim quando ameaça interesses corporativistas.

Gilliard Santos.

mar 3, 2017, 5:29 pm Responder

Então porquê as novas regras não tem validade pra todos? Políticos, militares? Se é uma questão demográfica, não deve existir distinções. Parece
que para alguns, a reforma só é ruim quando ameaça interesses corporativistas.

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