Orkut versus Tiktok: as diferenças e semelhanças nas experiências de duas gerações de jovens nas redes sociais

Foto: Ilustração

No início dos anos 2000, o Orkut representou o primeiro contato em massa entre os brasileiros e uma rede social. Os scraps (recados publicados nos perfis dos amigos) eram uma das principais formas de comunicação na rede. E as fotos, feitas em câmeras digitais, tinham que ser escolhidas a dedo: no começo, apenas 12 podiam ser postadas nos perfis pessoais.

Ao longo dos anos, hábitos e interesses na internet mudaram. Hoje, o principal fenômeno entre os mais novos é o TikTok. Na rede social, os usuários conseguem postar vídeos de até um minuto, que podem ser gravados e editados diretamente na plataforma.

Os próprios jovens costumam ser as estrelas dos vídeos, que vão de dublagens e coreografias a tutoriais e pegadinhas. Para esse público, expor a própria figura na internet e narrar o mundo pelas lentes do celular é um comportamento natural.

Já para a juventude da geração Orkut, editar ou publicar vídeos não era comum na rotina digital. E nada de celular: o acesso à extinta rede social ocorria por meio de computadores.

Um dos representantes célebres da época de sucesso do Orkut no Brasil, o youtuber e blogueiro Maurício Cid, de 35 anos, conhecido na internet como Cid Não Salvo, comenta que a tecnologia em vídeos do TikTok era impensável no início dos anos 2000. “Como explicar para um tiktoker que uma foto era tão pesada para uma rede social que cada um só podia escolher 12 no perfil do Orkut? Inimaginável hoje em dia”, diz Cid à BBC News Brasil.

Mas, apesar do avanço da tecnologia e de mudanças na forma como os jovens compartilham suas vidas na internet, pesquisadores apontam características em comum entre a juventude do Orkut e a do TikTok. A busca por inovações, cada plataforma à sua época, e a expansão da rede de contatos são alguns dos itens que se assemelham entre os usuários das duas gerações.

Para entender o que o Orkut e o TikTok dizem sobre as gerações Y (nascidos entre 1980 a meados dos anos 90) e Z (nascidos na metade dos anos 90 a 2010), a BBC News Brasil conversou com especialistas e figuras conhecidas na internet.

Orkut e TikTok

Criado em janeiro de 2004 por um, até então, funcionário do Google, o Orkut aceitava apenas usuários convidados por quem já era membro. Mas não demorou muito para que, com a popularidade, fosse aberto a todo o público e se tornasse o principal destino dos jovens brasileiros na internet. No auge, ele chegou a ter cerca de 36 milhões de usuários no Brasil (estima-se que em todo o mundo foram mais de 300 milhões).

Nos primeiros anos da extinta rede, o Brasil ainda dava os primeiros passos para o longo caminho da inclusão digital — que até hoje é um problema em diversas regiões, principalmente na periferia e nos locais mais afastados dos grandes centros.

“Os primeiros usuários do Orkut foram pessoas de classe alta, que tinham computador em casa e acesso à banda larga, que eram caros”, explica David Nemer, professor e pesquisador de Antropologia da Tecnologia na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

Em 2004, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de domicílios brasileiros com computador e internet era de 12,4%. Já em 2018, segundo o levantamento mais recente do IBGE, 79,1% dos domicílios no país tinham acesso à rede — que nos últimos anos passou a ser acessada massivamente por meio do celular.

Nemer detalha que, assim como no Orkut, as pessoas de classe alta também chegaram primeiro ao Facebook e, posteriormente, ao Instagram. “No Instagram, por exemplo, as classes mais altas entraram antes porque tiveram acesso ao smartphone primeiro”, diz o pesquisador sobre a rede de compartilhamento de fotos e vídeos.

Em relação ao TikTok, Nemer pontua que não há, ao menos por enquanto, pesquisas que tenham analisado se a classe alta também foi predominante no começo da rede no país. Além disso, ela se popularizou em um período em que as classes mais baixas já tinham mais acesso ao celular.

No Brasil, o TikTok começou a ganhar destaque entre os jovens a partir de 2019. Da forma como é conhecida hoje, a rede social surgiu em 2017. A origem do aplicativo é de 2014: com o nome de Musical.ly, o app chinês tinha como foco a gravação e o compartilhamento de vídeos de dublagens de músicas.

Três anos depois, a plataforma foi comprada pela empresa ByteDance, também chinesa, e foi repaginada com base no funcionamento de outro aplicativo da empresa, o Douyin, de compartilhamento de vídeos curtos. A junção das duas ferramentas deu origem ao TikTok, como é atualmente, que foi lançado com foco no mercado internacional. Veja mais em G1.

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