‘Pior é a saudade’, diz presa ao traficar droga para pagar aniversário do filho

Um estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostrou que 83% das detentas do Centro de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão, em João Pessoa, sofrem de algum problema de saúde mental, como ansiedade, depressão, estresse ou até pensamento suicida. Cristiane Belo, de 35 anos, está nesta estatística. “Por estar aqui, o pior é a saudade”, diz. Ela afirma ao G1 que escolheu traficar sete quilos de maconha e um de haxixe, do Mato Grosso para a Paraíba, em troca da festa de aniversário do filho, que completaria oito anos.

Cristiane foi presa na área de desembarque do aeroporto Castro Pinto, na Grande João Pessoa. Ela é uma das detentas que precisam de medicamentos para estancar as lágrimas e os pensamentos ansiosos. Segundo a diretora da penitenciária feminina de João Pessoa, Mirtes Daniele, o local acomoda atualmente 280 detentas. No entanto, a capacidade máxima é para 80 mulheres, uma superlotação de 250%.




Quem chega na Penitenciária Feminina não se espanta com o ambiente. Amplo, ventilado, descontraído. Entre a área administrativa e os pavilhões, um grande portão azul separa os mundos da liberdade e da prisão. Ao atravessá-lo, um pequeno jardim do lado esquerdo, fazendo nascer algumas flores do concreto. Mais à frente, a cela 15, destinada para as mulheres puérperas da unidade: grávidas ou com bebês de até seis meses, nascidos dentro da penitenciária.

Alguns passos a mais, o barulho cresce. Um som abafado de conversa e calor. Do lado direito, a origem da algazarra: o pavilhão principal, conhecido também como “corredor”, o local onde estão presas as mulheres que não estão grávidas, não têm filhos e trabalham na prisão.

O espaço se divide em 14 celas, cada uma de tamanhos diferenciados, mas pequenos para a quantidade de mulheres que comportam. A ventilação não chega com facilidade. O sol pouco visita o corredor. As mãos penduradas nas grades indicam que não há mais espaço dentro das celas. Segundo a diretora da penitenciária, “nenhuma das celas foi feita para comportar a quantidade de presas que tem”. Uma cela com seis presas foi feita para comportar duas pessoas, por exemplo.

‘Queria muito não ter feito o que fiz’
Em 2015 o filho de Cristiane Belo, de 35 anos, já não havia soprado as velas de sete anos. O pai foi preso também por tráfico de drogas e o aniversário da criança passou um ano em silêncio. Quando completaria oito anos, a mãe repetiu a sina. Sem dinheiro para pagar a festa, traficou sete quilos de maconha e um de haxixe, do Mato Grosso para João Pessoa, onde foi presa ainda no aeroporto. Entre lágrimas e soluços, Cristiane explica que desde que foi presa o filho é criado pela avó, de 65 anos. “Sinto falta dele, queria muito não ter feito o que fiz”, confessa.

Na prisão, vivendo entre quatro paredes com distâncias curtas entre elas, é difícil manter a sanidade. A detenta não come direito, não dorme bem e chora bastante. Deposita nas lágrimas o arrependimento do dinheiro fácil. “Choro por qualquer coisa, até se alguém olhar pra mim já começo a chorar”, diz.

A vida de Cristiane agora é marcada por um antes e depois da prisão. O antes já foi construído, ela era vendedora de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), saiu do emprego e encontrou a solução no tráfico. Na primeira vez que saiu de casa com uma mala cheia de drogas, Cristiane foi presa. Sua justificativa não valia mais a pena.

A família ficou. Quase 2,5 mil quilômetros separam o crime do motivo para cometê-lo. O filho de Cristiane não comemorou, mais uma vez, o aniversário. Ela está presa há seis meses e não reencontrou ninguém da família desde então. A psicóloga da unidade de vez em quando faz ligações para a detenta saber notícias da mãe, do filho e do sobrinho. “Falei com minha mãe e, na primeira vez, ela disse que estava bem. Na última, estava doente. Agoniei ainda mais meu coração”, chora.

Para aliviar a mente, além dos medicamentos, Cristiane também faz parte do trabalho na cozinha. Na cela onde mora, dez pessoas ocupam o espaço com duas camas. Quatro mulheres dormem em dois colchões, duas em uma cama e duas na outra. “A gente que trabalha tem um conforto maior, tem como estender roupa, tem como tomar banho tranquila. A convivência no corredor é bem mais difícil”, confessa.

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1 Comentário

SÉRGIO SOUZA

mar 3, 2017, 3:42 pm Responder

CARTA ABERTA DE INDIGNAÇÃO
Março já é realidade. A necessidade de profissionais capacitados em todos os municípios efetivou-se mais do que nunca em todos os setores: Educação, Saúde, Obras e Serviços Urbanos, Agricultura, Meio Ambiente e Pesca, Cultura, Esportes e Turismo. Em algumas prefeituras, concursos foram feitos diante da necessidade de profissionais em todas as áreas. Eu sou um dos aprovados num concurso que pode ser anulado por indefinição gerada pela falta de vontade. A cidade de Acari hoje comporta em sua folha um quadro de profissionais contratados assumindo funções que deveriam estar sendo exercidas por pessoas que, por mérito, conseguiram aprovação num concurso, inclusive reconhecido como um dos mais difíceis. O concurso encontra-se suspenso, o TCE faz os seus questionamentos e a cidade não responde de modo a sanar os problemas encontrados, num ciclo lento que pode levar à anulação. O limite prudencial do município, por exemplo, está no rol das situações levantadas pelo Tribunal de Contas do Estado. As contratações poderiam e deveriam ser rescindidas, de modo a pressionar as autoridades a tomarem uma atitude no que concerne à efetivação dos aprovados. Muito triste para cada concorrente ver o seu nome numa lista de aprovados e outras pessoas estarem ocupando um espaço que é seu de direito. Por cansar de esperar, peço ajuda a qualquer advogado para que possa atuar junto ao TCE, de modo a fazer valer o direto de todos nós aprovados. Peço ajuda da mídia para que divulguem a nossa situação e que todos vejam a dificuldade que encontramos em ocupar o nosso lugar de direito e de contribuir para o desenvolvimento do município supracitado. Só queremos exercer as funções nas quais conseguimos aprovação e ter a certeza de que ainda vale a pena acreditar no ESTUDO. Os jovens merecem ver que a nossa luta valeu a pena e que seguir o caminho correto ainda é solução. Vamos todos acreditar.
SÉRGIO SOUZA

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