PF e Cade vão investigar suspeita de cartel em postos de combustível em todo o país

Com fortes indícios de manipulação de preços nos combustíveis, o governo colocou a Polícia Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para investigar as empresas do setor.

A decisão vem depois de investigações feitas pelo próprio Cade mostrarem que esse é realmente um problema grave: desde 2012, de 17 casos já julgados, 12 resultaram em condenação por formação de cartel. E há ainda oito processos em andamento.

Para o governo, por conta desses cartéis, os benefícios da nova política de preços para gasolina e diesel adotada pela Petrobras acabam não chegando ao consumidor final: a reclamação é que as altas de preços são quase automaticamente repassadas às bombas, mas as reduções não chegam aos consumidores. “O consumidor tem o direito a escolher preço mais baixo, mas isso só acontece quando há concorrência”, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.

Na quarta-feira (7), a Petrobras anunciou que passará a divulgar diariamente os preços médios da gasolina e do diesel que saem de suas unidades, e não mais somente os porcentuais de reajuste, como vinha sendo feito, para tentar dar maior transparência ao mercado.

No mesmo dia pela manhã, o presidente do Cade, Alexandre Barreto, se reuniu com Moreira Franco e com o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, para discutir o tema. À tarde, Moreira Franco enviou ao Cade documento solicitando oficialmente providências.

Barreto já havia dito que o fato de a queda de preços na refinaria não ser repassada às bombas pode ser considerado um “indício de cartel”, mas que a investigação tem de ser acompanhada de outros elementos.

Investigações

As maiores multas aplicadas pelo Cade no setor foram para cartéis no Espírito Santo, de R$ 67, 2 milhões, Caxias do Sul (RS), de R$ 65 milhões, e Piauí, de R$ 41,3 milhões. O Cade condenou ainda outros esquemas em São Paulo, Bahia, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e Maranhão.

Para o advogado e ex-conselheiro do Cade Olavo Chinaglia, essas investigações têm efeitos pontuais no local de atuação do esquema, mas, para que haja um impacto nacional, é necessário também olhar para a distribuição dos produtos e discutir o monopólio da Petrobras no refino de petróleo.

“Se o objetivo é baratear para o consumidor, limitar a discussão sobre o fornecimento de combustíveis à intervenção do Cade é desviar o foco do problema principal, que é o marco regulatório brasileiro e a maneira como a Petrobras se relaciona com as distribuidoras”, afirma.

Em nota, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis (Fecombustíveis) disse que o mercado é “livre e competitivo” e que cabe a cada distribuidora e posto decidir se vai ou não repassar os reajustes aos consumidores “de acordo com suas estruturas de custo”.

A federação disse ainda que os postos de combustíveis têm absorvido parte da elevação dos custos cobrados pelas distribuidoras e ressaltou que os reajustes divulgados pela Petrobras nas refinarias são porcentuais médios, aplicados de maneira diferente nos estados.

Redução do preço da gasolina em 3% nas refinarias

A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (8) a maior redução dos valores da gasolina e do diesel combustível de 2018. A partir desta sexta (9), os novos preços estarão 3% (gasolina) e 2,6% (diesel) mais baratos nas refinarias. A estatal vem quase que diariamente informando em seu site (petrobras.com.br) os preços a serem praticados nas refinarias.

Uma consulta constatou que a queda de preços anunciada nesta quinta é a maior deste o final do ano passado. De 29 de dezembro de 2017 a 9 de fevereiro de 2018 a estatal fez 29 anúncios de preços nas suas unidades de refino. No caso do diesel, foram anunciadas 14 reduções e 15 aumentos de valores. Já a gasolina teve 15 anúncios de queda e 14 altas de preços.

Nos últimos três dias, a empresa anunciou diminuição de valores do diesel e da gasolina de 1,8% e 0% na quarta (7); 0,7% e 1,5% nesta quinta (8) e 2,6% e 3% na sexta (9). Enquanto isso, para o consumidor, essa política de preços não reflete na hora de abastecer o carro. De acordo com o levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, na semana entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro de 2018, o preço máximo do litro da gasolina chegou a R$ 5,15 e o mínimo ficou em R$ 3,579. Já o litro do diesel, no mesmo período, custava R$ 4,479 e R$ 2,939.

GAZETA DO POVO

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