‘Preferia dormir nas ruas do Brasil a voltar ao Afeganistão’, diz refugiada

A menina caminha nas ruas de terra para comprar alimentos na venda perto de casa. De repente, ouve o barulho ensurdecedor de uma explosão. Poeira branca sobe, cobre totalmente a visão.

Tudo parece suspenso no ar até que gritos lacerantes interrompem o silêncio. Aos poucos, os olhos voltam a enxergar o chão, agora tingido de vermelho. A menina se vê rodeada de sangue que não é dela.

Mais de uma vez, Nabila Khazizadah esteve diante dessa cena.

“Muitas pessoas morreram na minha frente. Eu saía para a rua para comprar alguma coisa e não sabia se iria voltar. Caía bomba, levantava fumaça, ficava tudo branco e, de repente, era sangue para todo o lado.”

Foi para evitar que um dia o sangue no chão fosse dela que Nabila e a família buscaram refúgio na Índia e, depois, no Brasil.

“O Afeganistão sempre esteve em guerra, desde que eu nasci foi assim, bombas e medo. Até que os talebãs tomaram a nossa casa e perdemos tudo”, contou à BBC News Brasil.

Nabila, o pai, a mãe e o irmão se mudaram para a Índia depois de perderem a casa para o Talebã. No novo país, chegaram a dormir nas ruas e passar fome, enquanto o pai tentava manter a família vendendo chinelos entre carros e transeuntes.

Alguns anos depois, o pai de Nabila a casou com um afegão, também refugiado na Índia, e o casal teve dois filhos. “Meu marido decidiu pedir ao governo indiano para sermos reassentados em outro país que desse auxílio e tivesse mais oportunidades de trabalho”.

Foi assim que começou a jornada para o Brasil. Meses depois do pedido, receberam a notícia de que o governo brasileiro havia aceitado reassentá-los. A notícia surpreendeu. Brasil? Eles tinham uma ideia muito remota do que era esse país tão distante de tudo o que conheciam.

“A gente disse: ‘mas a gente não sabe como é o Brasil, como é a língua, a cultura’. Saímos com olhos fechados, no escuro, jogando na sorte”, conta.

“Tudo o que a gente queria era um futuro para nossos filhos, mais calmo, mais saudável.”

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