Promotor criminaliza ação de populares que obrigou suspeitos pular de ponte. Inversão!

O Brasil é craque na aposta à inversão dos valores sociais

“O que foi feito com os dois adolescentes também é crime. Forçá-los a se jogar de uma ponte é tentativa de homicídio e, quando identificados, os autores dessa barbárie deverão ser processados”. A afirmação é do promotor de Justiça Wendell Beetoven Ribeiro Agra sobre os dois adolescentes que foram amarrados nus e forçados a pular da ponte de Igapó, na Zona Norte de Natal, após correrem por mais de 5 quilômetros. Os dois menores admitiram que pretendiam fazer assaltos nas proximidades na avenida Bernardo Vieira, na Zona Oeste de Natal, na noite desta segunda-feira (11).

De acordo com o promotor, os responsáveis por amarrar os jovens e obrigá-los a correr nus ainda podem responder por tortura. “Não vem nem ao caso se os adolescentes fizeram algo de errado ou não. O que se vê naqueles vídeos são dois rapazes sendo maltratados, torturados, sofrendo abusos físicos e psicológicos. Ainda que eles tenham feito algo de errado caberia à polícia e à justiça intervir”, afirmou.

Em entrevista à Inter TV Cabugi, um dos adolescentes confessou que iria praticar um assalto quando um homem que se identificou como policial, mas estava sem farda, abordou os dois jovens e fez com que eles deitassem no chão. “Ele chamou uma ruma de gente e disse que a gente estava roubando e disse pra população ‘agora é vocês que mandam’. Ele foi embora e a amarraram a gente, a população tirou nossa roupa e disse que a gente ia ter que correr até a Delegacia de Plantão da Zona Norte. Quando chegou na ponte o povo mandou a gente pular senão eles quebravam a gente”, contou o adolescente de 14 anos.

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Os dois adolescentes foram amarrados com as mãos para trás, despidos e obrigados a correr na avenida Bernardo Vieira – uma das mais movimentadas da cidade – enquanto eram seguidos por dezenas de populares em carros e motos. “É muito estranho que esses dois adolescentes tenham corrido num percurso de 6 quilômetros, durante quase uma hora, em uma das vias mais movimentadas de Natal – que, inclusive, é rota para o aeroporto – e a polícia não consiga chegar a tempo. Isso revela uma falha muito grande da polícia”, disse o promotor Wendell Beetoven.

Para ele, a atitude da população ao tentar fazer “justiça com as próprias mãos” evidencia um descrédito no sistema de justiça criminal e é extremamente preocupante. “Esse justiçamento, que as pessoas chamam de justiça com as próprias mãos, não tem nenhum parâmetro, legalidade nenhuma. O risco de uma pessoa inocente ser vítima disso é enorme e preocupante. Não existe justiça fora da justiça ofertada pela figura jurídica do Estado, não existe justiça na rua com apedrejamento, tortura”, disse.

Informações do G1 RN

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