Recife: Mulher trans é alvo de tentativa de homicídio e tem 40% do corpo queimado

Foto:  Katherine Coutinho/G1

Uma mulher trans de aproximadamente 40 anos foi vítima de uma tentativa de homicídio na madrugada da quinta-feira (24), próximo ao Cais de Santa Rita, na região central do Recife. Segundo a Polícia Civil, um adolescente foi apreendido e autuado em flagrante por atear fogo ao corpo dela. O Hospital da Restauração, para onde ela foi socorrida, informou que a vítima teve 40% do corpo queimado, foi internada na enfermaria voltada para pacientes com queimaduras e tem quadro de saúde considerado estável nesta sexta-feira (25).

O crime aconteceu próximo ao Terminal de Ônibus do Cais de Santa Rita. Policiais militares passavam pela região, quando foram acionados pela população e encontraram a vítima com o corpo em chamas. Segundo a Polícia Militar, o adolescente tentou fugir e foi apreendido, sendo encaminhado para uma delegacia. No boletim de ocorrência, ao qual o G1 teve acesso, consta que testemunhas relataram à PM que um homem estaria com a vítima em um barraco de lona e teria ateado fogo a ela, tentando fugir em seguida. O jovem foi encontrado logo depois, correndo.

Ainda de acordo com o registro policial, a vítima não tinha documentos e mora na rua. Ela foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital da Restauração.

“Soube pelas redes sociais que uma mulher trans foi agredida com fogo. A gente vai oficiar os órgãos do governo para que sejam tomadas providências em relação a essa questão. Vamos conversar com ela para entender o que ela precisa”, afirmou a Robeyoncé Lima, do mandato coletivo Juntas (PSOL), que foi até o Hospital da Restauração para falar com a vítima.

Após a visita, a parlamentar relatou que a mulher trans, identificada como Roberta, acredita que foi vítima de LGBTfobia. O caso foi registrado na 7ª Delegacia de Polícia de Plantão da Criança e do Adolescente, no Recife, como “ato infracional análogo a homicídio doloso tentado”. Segundo o delegado José Renato, titular da Delegacia de Polícia de Atos Infracionais (Depai), o adolescente foi levado à Unidade de Atendimento Inicial (Uniai) da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase).

Prefeito se pronuncia na internet

Em uma postagem no Twitter, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), disse que determinou que a Secretaria de Desenvolvimento Social do município faça o acompanhamento e “dê a assistência necessária à mulher trans vítima dessa tentativa de homicídio. “O que aconteceu é intolerável, atinge a todos e todas nós, comprometidos com a causa dos direitos humanos e do enfrentamento à qualquer tipo de violência e preconceito”, declarou o prefeito na mensagem publicada nessa rede social.

Governo monitora

Por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude de Pernambuco disse que a Coordenadoria de Promoção de Direitos da População LGBT do estado acompanha a investigação.

Também informou que, durante uma reunião realizada na manhã desta sexta-feira (25) com a secretária estadual da Mulher, Ana Elisa, foram definidos “os encaminhamentos necessários, além de fazer contato com os centros estadual e municipal de referência às pautas LGBT”. O texto afirmou ainda que “iremos acompanhar junto à Secretaria de Defesa Social toda a investigação até que ocorra a punição dos envolvidos”.

Estatísticas

De acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS), até maio de 2021, 13 pessoas da população LGBTQIA+ foram vítimas de Crime Violento Letal Intencional (CVLI) no estado, o que corresponde a 0,9% dos 1.429 registros desse tipo de ação criminosa nos cinco primeiros meses.

A maior parte desses homicídios aconteceu em vias públicas (6 casos) e em residências (5). Com relação à faixa etárias das vítimas, sete tinham entre 18 e 30 anos, cinco entre 31 e 65 anos e uma entre 13 e 17 anos.

O governo de Pernambuco também registrou 1.106 ocorrências de violência contra cidadãos que se identificam como LGBTQIA+, o que inclui crimes como lesão corporal, maus-tratos, estupro, difamação, calúnia, racismo e injúria racial.

Em 2020, o total de CVLIs contra essa população em Pernambuco foi de 47, o que representa 1,3% do total de 3.758 crimes contra a vida notificados no estado no ano passado. Quase a metade desses homicídios aconteceu em residências (22 casos), e outros 18 foram cometidos em vias públicas.

A maioria das vítimas (27) tinha idade entre 31 e 65 anos, enquanto outros 19 crimes foram praticados contra pessoas de 18 a 30 anos. Uma criança (1 a 12 anos) também foi vítima. Quanto aos casos de violência contra LGBTQIA+, 2.113 pessoas prestaram queixa à polícia.

Em 2019, o estado contabilizou 30 homicídios de cidadãos LGBTQIA+, o que equivale a 0,9% dos 3.469 CVLIs registrados em Pernambuco no referido ano. Foram 11 ocorrências dentro de residências, 10 em locais públicos e 9 em lugares como bares, terreno baldio e estabelecimento comercial.

Com relação à faixa etária, 60% das vítimas tinham de 31 a 65 anos, o que significa 18 casos. Também foram registrados 10 CVLIs contra pessoas entre 18 e 30 anos, além de quatro vítimas com idades entre 13 e 17 anos. Em 2019, 1.170 cidadãos LGBTQIA+ registraram boletim de ocorrência por sofrer algum tipo de violência.

“Essas estatísticas levam em conta a orientação sexual ou gênero declarados pelas vítimas. Portanto, não necessariamente a motivação desses crimes seria a intolerância de gênero ou a homofobia. No caso ocorrido no Cais de Santa Rita, a Polícia Civil está investigando as circunstâncias da violência praticada”, declarou a SDS, em nota.

Outro caso

No dia 18 de junho de 2021, uma mulher trans foi encontrada morta dentro de casa, no bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife. Dias depois, o companheiro dela foi preso suspeito do crime. Kalyndra Selva Guedes Nogueira da Hora, de 26 anos, foi encontrada após uma denúncia sobre cheiro forte saindo da casa. De acordo com a PM, familiares relataram que a causa da morte podia ser asfixia.

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