Talibã chega a Cabul e quer rendição do governo do Afeganistão

Foto: AFP

O Talibã chegou neste domingo (15) aos arredores de Cabul e cercou a capital afegã por várias frentes, informou o Ministério do Interior do Afeganistão. O grupo terrorista defende uma rendição pacífica do governo afegão. O gabinete da presidência do Afeganistão afirmou que disparos foram ouvidos em algumas partes de Cabul, mas tranquilizou a população e declarou que a situação está sob controle das forças de segurança.

Já o ministro do Interior, Abdul Sattar Mirzakwal, gravou um vídeo em que garante a “transferência pacífica de poder”. “Os afegãos não precisam se preocupar, não haverá ataque”, disse o ministro. “Haverá uma transferência pacífica de poder para um governo de transição.”Suhail Shaheen, porta-voz do Talibã, fez um “chamado ao presidente Ashraf Ghani” e a outros líderes para que atuem também em uma “transição pacífica de poder” para o grupo extremista islâmico.

“Nossa liderança instruiu nossas forças a permanecerem nos portões de Cabul, não a entrar na cidade”, disse o porta-voz em uma entrevista à BBC. “Estamos aguardando uma transferência pacífica de poder.”

Shaheen já vem anunciando o que pode ser considerado uma série de “medidas de governo”, mesmo sem o reconhecimento oficial, como o respeito à imprensa, à diplomacia e a autorização para que mulheres possam deixar suas casas sozinhas.

“Asseguramos às pessoas, especialmente na cidade de Cabul, que suas propriedades e suas vidas estão seguras”, disse o porta-voz.

Direitos das mulheres

Quando o Talibã governou o Afeganistão pela última vez, de 1996 a 2001, as mulheres não podiam trabalhar, as meninas não podiam frequentar a escola e todas tinham que cobrir o rosto e estar acompanhadas por um parente do sexo masculino se quisessem sair de casa.

As mulheres que infringissem as regras às vezes sofriam humilhações e espancamentos públicos pela polícia religiosa do Talibã que atuava sob uma interpretação bastante rígida da sharia, a lei islâmica.

Desta vez, no entanto, porta-vozes do grupo garantem que irão respeitar os direitos das mulheres, com acesso à educação e ao trabalho – mas com a obrigatoriedade do uso do hijab, lenço que cobre os cabelos e rosto.

Eles também afirmaram que as mulheres terão autorização para deixar suas casas sem a companhia de um membro homem da família. Essa mudança no discurso vem sendo apontada por especialistas em Oriente Médio como uma forma do movimento se aproximar da comunidade internacional.

Saída de diplomatas

Os diplomatas norte-americanos que trabalharam na Embaixada em Cabul começaram a deixar o Afeganistão neste domingo. O Reino Unido ordenou a saída imediata de cidadãos britânicos das cidades afegãs.

O cerco do Talibã a Cabul ocorre 20 anos depois de o grupo terrorista ser expulso da capital afegã pelos Estados Unidos, que invadiram o país dias após os ataques de 11 de setembro de 2001, e em meio à retirada dos militares norte-americanos do país.

Em abril, o presidente Joe Biden havia anunciado que todos deixariam o Afeganistão até 11 de setembro deste ano.

O Talibã avançou rapidamente depois de que a maior parte das forças lideradas pelos EUA deixaram o país em julho, e a chegada do grupo terrorista a Cabul ocorre antes do previsto pelas autoridades norte-americanas.

Segundo a agência de notícias Reuters, a estimativa dos serviços de inteligência norte-americanos era que o Talibã isolaria a capital em setembro, e que uma eventual tomada do poder ocorreria apenas novembro.

Salvo-conduto para fuga

Segundo informações do jornal “The New York Times”, o Talibã afirmou em um comunicado estar em negociações com o governo, mas não vai tomar a capital afegã à força. Ainda de acordo com o jornal, o grupo extremista diz que o governo ainda não respondeu a esse comunicado.

Depois do avanço relâmpago em direção à capital e maior cidade afegã, o grupo insurgente ordenou a seus combatentes que diminuam a violência e permitam a passagem segura de qualquer pessoa que queira deixar o país.

O Talibã ainda sugeriu que mulheres se dirijam a áreas protegidas, declarou um líder do grupo em Doha, no Catar.

“Não queremos que um único civil afegão inocente fique ferido ou seja morto enquanto tomamos o poder, mas não declaramos um cessar-fogo”, afirmou uma autoridade do Talibã, segundo a agência de notícias Reuters.

No Vaticano, em seu discurso semanal, o Papa Francisco clamou por diálogo no Afeganistão para que cessem os conflitos, a fim de que a população afegã possa viver em paz, segurança e respeito mútuo.

Escalada do Talibã

Mais cedo, o Talibã havia tomado a cidade de Jalalabad, no leste do país, o que fez a capital Cabul ser a única das grandes cidades afegãs sob controle do governo.

As autoridades informaram que a tomada de Jalalabad ocorreu sem confrontos e que a segurança das estradas que ligam o país ao Paquistão estava garantida. A nação vizinha reagiu e fechou a passagem de fronteira de Torkham.

No sábado (14), o Talibã tomou Mazar-i-Sharif, principal cidade do norte afegão; e Pul-e-Alam, capital da província de Logar, a 70 quilômetros de Cabul. Na quinta-feira, já havia assumido o controle de Kandahar e Herat, segunda e terceira maiores cidades do país.

Também no sábado, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, garantiu que o combate contra o Talibã continuava.

“A remobilização de nossas forças de segurança e defesa é nossa prioridade número um e medidas sérias estão sendo tomadas para esse fim”, disse Ghani, em um discurso.

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