Tráfico no Rio Grande do Norte está nas mãos de dez criminosos, aponta jornal

Antes restrito a “becos” e “quebradas” de comunidades carentes, o tráfico de drogas ganha proporções maiores e conquista mais espaço nas grandes avenidas e cidades do interior do Rio Grande do Norte. No estado, a disputa pelo domínio do tráfico é rivalizada por traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Sindicato do RN, que “se matam” diariamente pelo domínio de territórios.

Listados por fontes da TRIBUNA DO NORTE ligados à polícia, os dez maiores traficantes comandam o comércio de dentro da cadeia e movimentam milhões de reais, outros estão foragidos. Somente em 2016, a delegacia de narcóticos de Natal prendeu 116 pessoas e apreendeu 300 quilos em drogas. Nas “mãos” dos suspeitos, foram encontrados R$ 374 mil em objetos, sem contar com o valor dos entorpecentes.

As violentas consequências do tráfico de drogas atingem hoje praticamente toda a sociedade: mortes violentas e superlotação de presídios são alguns dos problemas

Cerca de 90% das “quebradas” de Natal e Região Metropolitana são dominadas por membros do Sindicato do RN, que rivalizam diariamente o comércio desses locais com o PCC. Fontes ouvidas pela TRIBUNA DO NORTE ligadas à segurança pública afirmaram que quase 100% dos homicídios registrados nesses locais ocorrem pela disputa pela comercialização. Dentro dos presídios, traficantes comandam o tráfico e mandam ordens pelas visitas. Quando traficantes são presos, as mulheres ficam responsáveis por levar os recados e operacionalizar a venda.

O “Sindicato do RN” é maioria em no estado por causa do baixo valor que a facção consegue comercializar a droga e pelo fato da “mensalidade” para fazer parte da organização ser mais barata que a do PCC. Quem quiser fazer parte da facção potiguar paga R$ 100 reais se estiver preso e R$ 200 se estiver solto. A mensalidade do PCC gira em torno de R$ 600.

Os “grandes atacadistas”, nome dado aos traficantes de droga que ocupam um alto escalão na hierarquia da facção, saem do Rio Grande do Norte com destino à cidades fronteiriças com Brasil para comprar a droga. Ao chegar lá, geralmente de carro, uma mulher leva o veículo até o local em que ocorrerá a compra. Toneladas são trazidas geralmente em caminhões. Em alguns casos a droga é armazenada dentro de troncos de madeira e transportadas até o estado. Na frente dos carregamento, vem os carros com “batedores”, que avisam quando existem barreiras policiais no caminho.

Ao chegar no RN, o atacadista repassa a droga para revendedores, que por sua vez passa para um intermediário e por fim ela é levada ao varejista ou “boqueiro”, que são as pessoas que vendem nas “bocas de fumo”. Antes de chegar ao “consumidor final”, a droga é geralmente refinada ou armazenada em casas ou granjas alugadas por temporada, que ficam fora da capital. Nas comunidades, a distribuição é comandada pelos “linha de frente”.

Conforme investigações da Polícia Civil, os traficantes do nordeste tem optado pela pasta base (matéria-prima para a cocaína em pó, o crack e a merla), ao invés de comprar a cocaína refinada e crack. A explicação é de que com a pasta base os traficantes conseguem, “in loco”, refinar a cocaína e virar crack. Além de que o produto é transportado em uma quantidade maior e renderia mais. Cerca de 1 kg e pasta é capaz de fazer até 3 kg de cocaína e 5 kg de crack. “Ambos com alto teor, ou seja, alta qualidade”, detalhou o delegado Ulisses de Souza, titular da delegacia de Narcóticos. A pasta que vem para o Brasil é comprada na Bolívia e Peru.

De baixo da sombra de uma ponte, o morador de rua Carlos, 28 anos, fuma tranquilamente as pedras de crack compradas em uma boca de fumo do Passo da Pátria, bairro da região leste de Natal. Para conseguir dinheiro para comprar a “pedra”, ele limpa vidros no sinal e pede dinheiro nas ruas. Carlos conta que mora na rua desde criança, e que usar drogas é “regra de sobrevivência” para quem vive ao relento. “Eu já vi muita coisa nessa vida e infelizmente tenho que usar droga para aguentar o que passo aqui, já tentei deixar mas é difícil. Não foi uma escolha minha, a droga me escolheu”, disse o usuário. Carlos é um em uma multidão de usuários invisíveis à sociedade e poder público.

10 maiores traficantes de drogas do RN

A pena para o tráfico de drogas varia de cinco a 15 anos de reclusão, já a associação para o tráfico é punida com três a 10 anos. Tais penas podem ser aumentadas de um sexto a dois terços em razão da transnacionalidade do delito.

1 – “Marcinho Potência”

é um dos fundadores do Sindicato do RN, está foragido desde 2013. O traficante usa identidade falsa e continua indo buscar buscar drogas na fronteira para trazer ao RN. Foi abordado na cidade de Coacal, em Rondônia, na fronteira com o Paraguai pela Polícia Rodoviária Federal, mas conseguiu fugir em 2016.

2 – “Loprão”

preso na “Operação Boqueirão”, em 2010. Mesmo preso no “Pereirão”, “Loprão” continuou a comandar a venda de drogas. Atualmente está preso na penitenciária Federal de Catanduvas. É filiado ao comando Vermelho.

3 – “João Mago”

preso pela Polícia Civil em julho de 2016 após ter mais de R$ 300 mil apreendidos, além de 60 telefones celulares, armas e grande quantidade de drogas e jóias, que valeriam aproximadamente R$ 700 mil. Era considerado foragido desde dezembro de 2015, quando saiu da PEP, na Grande Natal, com o auxílio de um alvará de soltura falso.

4 – “Irmãos Martins”

atuam no tráfico de drogas na região oeste do RN e seriam filiados do PCC. Os dois cumpriram pena na Penitenciária Agrícola de Mossoró. Um deles foi mandado para o presídio federal nas rebeliões de março de 2015, o outro está foragido.

5 – “Xanga” ou “Gordo Evan”

preso na Operação Barreiros, da Polícia Civil, também foi denunciado na Operação Alcatéia, do Ministério Público do RN por tráfico. É suspeito de fornecer drogas para o Sindicato do RN. Atualmente está preso em São Paulo. Era encarregado de adquirir no atacado a droga no Estado do Mato Grosso e trazer para o RN.

6 – ‘Gato’

responde na Justiça por tráfico de drogas. Ele é considerado chefe de um comércio de entorpecentes em Parnamirim e tem papel considerado relevante dentro da organização.

7 – “Andreza Patroa”

é considerada pela polícia como uma das traficantes mais procuradas. Viúva de um traficante conhecido como “Sardinha”, herdou as “bocas de fumo” do marido e a “quebrada” quando ele morreu por rivalidade em torcida organizada. Controla as “bocas” dos Coqueiros e Lagoa Nova. Tem mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas.

8 – “Clemente Véio”

Estava preso do semi aberto respondendo por tráfico de drogas, quando foi pego com 2 toneladas de maconha na Operação Oriente, em 2013, em Parnamirim. Está preso em São Paulo. É considerado um atacadista “independente”, que fornecia drogas para o Sindicato do RN.

9 – “Clidiano”

foi preso por tráfico internacional de drogas em operação do MPF. Respondia em prisão domiciliar por causa de um tratamento de saúde quando fugiu. O grupo que ele faz parte foi acusado de se associar para transportar drogas do Paraguai com o objetivo de distribuir no Rio Grande do Norte. Atualmente está foragido.

10 – “Diego Branco”

ele já foi um dos criminosos mais procurados do Rio Grande do Norte. É apontado pela polícia como participante do assassinato de dois policiais civis da Delegacia Especializada em Defesa e Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov). Foi preso no Ceará em 2013, acompanhado de um traficante conhecido como “senhor”.

Por Aura Mazda;
Tribuna do Norte

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