Trump testa lealdade de Pence com pressão para que vice derrube no Congresso a vitória de Biden

Foto:  Jonathan Ernst/Reuters

A tempestade perfeita se anuncia nesta quarta-feira (6) em Washington, dia em que o Congresso se reúne numa sessão conjunta para contar os votos do Colégio Eleitoral e ratificar Joe Biden como o 46º presidente americano. Seria apenas um rito de passagem não fosse a rebelião articulada pelo presidente Donald Trump de um grupo de 150 senadores e deputados para adiar o processo e subverter o resultado eleitoral.

O presidente dos Estados Unidos insufla seus seguidores a lotarem o Ellipse, um parque ao sul da Casa Branca, em um protesto gigantesco e potencialmente violento que ele denomina de comício para “salvar a América”. Agente instigador da tensão que paira sobre a capital dos EUA e direcionada também a membros de seu próprio partido, Trump promete um discurso para desfiar a sua versão tortuosa das eleições de novembro.

Na Geórgia, os ventos sopram na direção dos democratas, com força para atiçar a ira do presidente. Projeções indicam a vitória do reverendo Raphael Warnock sobre a senadora republicana Kelly Loeffler no segundo turno para o Senado.

Em outra disputa apertada, o democrata Jon Ossoff ainda tenta desbancar, com uma vantagem de 16 mil votos, o senador republicano David Perdue. Se vencer, o partido de Biden controlará ambas as casas do Congresso dos EUA, facilitando o mandato do futuro presidente.

Diante de tantas frentes conflitantes, a dúvida é qual o papel que o vice-presidente Mike Pence escolherá para imprimir a sua marca na História: o de condutor da sessão que certificará Biden ou de mero escudeiro do presidente a quem serviu nos últimos quatro anos.

Trump pressiona Pence para que desafie a vitória de Biden, espalhando informações inverídicas sobre a natureza do papel do vice-presidente americano e presidente do Senado na cerimônia de contagem dos votos do Colégio Eleitoral. Ao alardear que Pence tem o poder de intervir para impedir a certificação de Biden, Trump testa a lealdade de seu vice, deixando-o em posição vulnerável.

Qualquer tentativa de interferência de Pence, em nome de Trump, seria uma farsa constitucional e abriria um precedente perigoso, conforme avaliou Edward B. Foley, professor de direito eleitoral e ex-procurador de Ohio, em artigo publicado no “Washington Post”. O movimento articulado por congressistas leais a Trump está fadado ao fracasso, mas tem força para abalar os alicerces da democracia americana.

Em 2000, embora derrotado numa eleição tumultuada, o ex-vice-presidente Al Gore se recusou a aceitar as objeções de congressistas democratas e declarou George W. Bush presidente dos EUA. O então vice Joe Biden agiu da mesma forma, em 2017, ratificando a vitória de Donald Trump.
Se Pence optar pelo papel que lhe cabe — o de apenas supervisionar a contagem dos votos do Colégio Eleitoral sem os subterfúgios impostos pelo chefe — estará no mesmo pedestal de seus antecessores.

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