Uma das ditaduras mais longevas do mundo pode acabar nesta segunda-feira

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, 93, foi destituído do cargo de presidente de seu próprio partido, o governista Zanu-PF, e substituído pelo ex-vice-presidente Emmerson Manangagwa, neste domingo (19). Após ser confinado pelos militares em sua própria residência, Mugabe fez sua primeira aparição pública nesta sexta-feira (17). 

O partido deu ainda a Mugabe até o meio-dia desta segunda-feira (20) para renunciar ao cargo de presidente ou enfrentar um impeachment. Mugabe, no entanto, fez um discurso na televisão nacional, nesta sexta, sem anunciar sua renúncia. Contrariando expectativas, ele sugeriu que estava desafiando o partido no poder.

Ele fez referência a um congresso do partido no próximo mês, que iria presidir. “O Congresso vai acontecer em algumas semanas a partir de agora. Eu presidirei os processos do congresso, que não deve ser palco de quaisquer atos susceptíveis de prejudicá-lo ou de comprometer os resultados aos olhos do público”.  

Funcionários próximos das negociações entre Mugabe e os militares disseram que Mugabe estava renunciando.

Mnangagwa deverá liderar um novo governo após sua eleição formal como chefe do partido no poder no próximo mês. Manangagwa igualmente foi nomeado candidato às eleições presidenciais previstas para 2018.

Manifestações

No sábado (18), milhares foram às ruas da capital, Harare, para pedir a saída de Mugabe do poder.

“O camarada Robert Mugabe deve se demitir da presidência do Zimbábue e, se não fizer isso até segunda ao meio dia (…) o presidente do Parlamento iniciará o procedimento de destituição”, declarou o porta-voz do Zanu-PF, Simon Khaye Moyo, depois de uma reunião de emergência do partido em Harare para discutir a profunda crise política do país. 

“O camarada Emmerson Mnangagwa foi eleito presidente e primeiro secretário do Zanu-PF e designado candidato do partido às eleições gerais de 2018”, declarou Moyo.

A primeira-dama do Zimbábue, Grace Mugabe, também foi expulsa do Zanu-PF. “Grace está na lista de personalidades que vão ser excluídas do partido”, informou o porta-voz do Zanu-PF.

“A mulher [de Mugabe] e outros se aproveitaram da delicada situação para usurpar o poder e saquear os recursos do Estado”, afirmou, por sua vez, outro dirigente do partido, Obert Mpofu.

Ainda neste domingo, Mugabe deve se reunir com os militares que assumiram o controle no país e o colocaram em prisão domiciliar. O objetivo dos militares é igualmente que o idoso presidente apresente sua renúncia.

Sem aliados

Pela manhã, os veteranos de guerra da independência do Zimbábue pediram igualmente a renúncia de Mugabe.

“Ele deveria renunciar. Se não fizer, isso, o exército deve terminar logo com ele”, afirmou o chefe da poderosa associação de veteranos de guerra, Chris Mutsvangwa, horas antes da reunião de Mugabe com os militares.

Este partido político foi até agora um aliado fiel de Mugabe, de 93 anos, mas desde que o Exército tomou o controle do país, afirma que o presidente deveria se “aposentar para descansar como homem de Estado idoso que é”.

Isso acontece um dia depois que milhares de manifestantes saíram às ruas de Harare para pedir que o presidente Robert Mugabe, cada vez mais abandonado por seus aliados, deixe o poder, em uma mobilização apoiada pelo Exército.

Estas manifestações contra Mugabe, que começaram de forma pacífica na manhã de sábado, encerram uma semana de crise política sem precedentes no Zimbábue, onde as Forças Armadas tomaram o controle do país e colocaram em prisão domiciliar o chefe de Estado no poder desde 1980.

A intervenção do Exército representa uma guinada no longo reinado de Mugabe, marcado pela repressão de qualquer oposição e uma grave crise econômica.

GAZETA DO POVO

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