Da decepção ao bronze, Fratus superou depressão e teve esposa como técnica

Foto: Jonne Roriz/COB/Divulgação

Em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Bruno Fratus, nascido em Macaé (RJ), caiu na piscina para a final dos 50m livre com muita expectativa de conquistar uma medalha. Ele tinha sido o quarto colocado em Londres, em 2012, e vinha de um pódio no Mundial de 2015. Mas as coisas não deram certo. O brasileiro saiu só com a sexta posição, pouco para suas pretensões, e na saída da piscina, ao ser entrevistado pela repórter Karin Duarte, do canal Sportv, soltou essa resposta muito marcante à época.

“Sai chateado?”, perguntou a jornalista. “Não. Estou felizão, né?”, respondeu o nadador. Ainda durante a competição ele voltou ao microfone para pedir desculpas em razão da resposta atravessada, de cabeça quente. Na noite deste sábado (31), na mesma prova, cinco anos depois e três posições à frente, finalmente Fratus se emocionou com a conquista de uma medalha olímpica, o bronze nos Jogos de Tóquio. “Estou felizão para caramba, para não falar outra coisa”, respondeu dessa vez.

Dificuldade pós-Rio

Entrevista famosa à parte, o brasileiro teve dificuldade em retomar o ritmo para o novo ciclo olímpico depois de 2016. Ele relembrou em Tóquio que desde então tem lidado com a ansiedade e que, nos meses após os Jogos do Rio, viveu a pior depressão de sua vida. Acabou acolhido por sua família, seu treinador Brett Hawke e sua esposa Michelle Lenhardt.

Ali, ainda esposa, mas pouco depois, técnica. Hawke, por conta de outros compromissos profissionais, não conseguia mais acompanhar Fratus tão de perto, e Michelle, ex-nadadora e também treinadora, assumiu o comando. O nadador havia mudado para os Estados Unidos em 2014, começando seu trabalho com o australiano que já havia trabalhado com César Cielo, mas agora, na preparação para sua terceira edição de Olimpíadas, o trabalho seria com a companheira pessoal.

“Chega a ser injusto eu subir no pódio sozinho. Eu não fiz nada sozinho, tem muita gente por trás. Meus pais, a Michelle, inúmeros técnicos, pessoas que não aparecem. Com certeza eu vou ligar para cada um deles e agradecer pessoalmente”, disse ao fim da prova, momentos depois de encontrar a esposa para um beijo de agradecimento e comemoração.

Nas falas após o bronze, ele lembrou de Hawke, que segue como orientador dos treinamentos, Natan Cunha, fisioterapeuta que acompanhou suas lesões de perto, e nomes importantes da natação brasileira. “Queria agradecer dois caras. Um é o Cesar Cielo, que mostrou que era possível uns anos atrás. No começo, se eu não tivesse a oportunidade de competir ao lado de quem acredito ser o melhor velocista da história, eu não teria chegado aqui. E agradecer ao Fernando Scheffer, que mostrou nessa semana que era possível também”.

‘Decidi aos 11 anos que seria medalhista olímpico’

Bruno Fratus, de 32 anos, é um dos nadadores mais constantes entre os que nadam as provas curtas. Ele já tinha sido quarto e sexto nos 50m livre nas Olimpíadas, além de segundo (duas vezes), terceiro e quinto lugar em Mundiais. Na elite há uma década, ele é um dos mais velhos a conquistar a primeira medalha olímpica e tem, segundo balanço publicado pelo site dos Olimpíadas de 2020, o maior número de provas abaixo dos 22 segundos na história, a última delas (21,57s) rendendo o pódio no Japão.

Para o Brasil, o bronze de Fratus significa se recolocar na parte de cima desta disputa que é tradicional e vitoriosa para a natação do país. Das 16 conquistas da modalidade na história das Olimpíadas (incluindo a maratona aquática, em águas abertas), quatro saíram na competição mais rápida das piscinas, e Fratus se junta a Cielo, ouro em 2008 e bronze em 2012, e Fernando Scherer, o Xuxa, bronze em 1996.

“Nunca fui o mais alto, o mais físico, o geneticamente melhor, o mais forte, nunca fui destaque na base. Mas decidi aos 11 anos de idade que eu seria medalhista olímpico. São mais de 20 anos procurando fazer as escolhas certas. Estou felizão para caramba”, finalizou, em entrevista à TV Globo. Por CNN BRASIL

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